Borboletou com a Asa Dura 23

Até quando estaria silenciado em si, o diálogo com a própria alma? Até quando seria um referencial de modelo de boas obras, cumpridora da cartilha da fé, atendendo aos olhos dos outros ser a serva de Deus, que o temia e o amava. Fazendo tudo certinho, não caluniando, não invejando, não difamando, não irando, não mentindo, não pecando, pousando de feliz, realizada, e dentro, alimentando do fel da frustração existencial, aguardando o final, esperando a morte chegar.

Vovô dizia: “Traia o mundo inteiro, menos sua consciência”.

Numa ação, recheada de desculpas, a vontade da borboleta, que até então estava movida pela opressão interna, deu o primeiro sinal; pediu para que fosse suspensa do cargo de organista, às véspera da doença que a levou para o desafio interior, fazendo-se liberar da função, sem saber que estava a caminho do processo de ressignificação interior da pior forma. Pelo sofrimento.

Tinha a perfeição do corpo(bio), tudo funcionando para ser livre, no uso da mente, da inteligência(noos), mas usava a vontade num ego caótico, culpando o mundo terreno e toda sua fazedura, incluindo a religião institucionalizada a qual frequentava, tendo como centro, o drama, e a si própria como vítima.

Ausente a consciência desperta(logos), para assumir a liberdade, para se valer da vontade para realizar as escolhas, que passaria a dar significado a própria vida, seja em que condições ela se apresentasse. Onde o sentido da vida, ou não, era de sua única responsabilidade.

Com a movimentação da vontade no caótico ego, impedia a Alma de participar do “mito” do significado.

Esperava a solução externa, para continuar aceitando a religião institucionalizada a qual pertencia, de uma mudança na visão dos pregadores e o modo de professar os ensinamentos deixados por Jesus Cristo, de modo que o amor fraterno proposto por ele fosse levados a serem compreendidos, não impostos, de dentro para fora, não, de fora para dentro, dependendo não somente de acreditar que foi verdadeiro o Fato Místico de Jesus Cristo, mas senti-lo em si.

Esperava uma mudança na pedagogia do ensino religioso às crianças na igreja, que elas , desde tenra idade, fossem levadas a pensar sobre si mesmas enquanto seres capazes de experimentar o Amor Divino professado por Cristo Jesus, e somente a partir desta experiência, poderiam alcançar definitivamente a libertação da alma para ser neste mundo com o batismo.

Na indignação, rebelava dentro de si com argumentos fundamentados na lógica analítica. Debatia no ser contra a cartilha da instituição religiosa que pertencia, e contra as mais variadas instituições religiosas, cristãs, ou de outros credos. Pelo intelecto, justo e exato, quase tudo tornava-se inútil. À exceção, aquilo que por algum tempo tinha sentido na mente.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 26/04/2021
Código do texto: T7241577
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