Velhice
Minha cara debochada enlargueceu
Riu do tempo, escorregou dos ossos.
O espelho já não me congratula
Mas debocha de meus olhos fundos,
Minha boca murcha, minhas bochechas flácidas.
O tempo é implacável!
Não me recordo de ter perdido o elástico
Que ligava as correias de meu couro.
Minha testa marca meu desgosto
Meu descontentamento bigodeia
E minha velhice vai chegando sem cerimônia.
Chega um tempo em que a gente teme se olhar
Teme encontrar o terror do outro lado,
Tem mais medo da idade que da morte.
Mas não há fuga que não deforme
Não há procedimento sem consequencia
Não há nada que não denuncie o tempo.
Nesse escrutínio que devasta nossa dignidade
Julgamo-nos acabadas, sem remédio.
E, de fato, estamos.
É... se é triste envelhecer
Mais triste é não ter vivido.