Velhice

Minha cara debochada enlargueceu

Riu do tempo, escorregou dos ossos.

O espelho já não me congratula

Mas debocha de meus olhos fundos,

Minha boca murcha, minhas bochechas flácidas.

O tempo é implacável!

Não me recordo de ter perdido o elástico

Que ligava as correias de meu couro.

Minha testa marca meu desgosto

Meu descontentamento bigodeia

E minha velhice vai chegando sem cerimônia.

Chega um tempo em que a gente teme se olhar

Teme encontrar o terror do outro lado,

Tem mais medo da idade que da morte.

Mas não há fuga que não deforme

Não há procedimento sem consequencia

Não há nada que não denuncie o tempo.

Nesse escrutínio que devasta nossa dignidade

Julgamo-nos acabadas, sem remédio.

E, de fato, estamos.

É... se é triste envelhecer

Mais triste é não ter vivido.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 24/04/2021
Código do texto: T7240438
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