Senta lá, Joaquim
O grito não ofendeu a audição
Da nação posta à margem do rio
Não aferiu sentido do Ipiranga
Aos mocambos da borda norte
Creia-me
Não há uma só margem
Tampouco que seja plácida
Os heróis e a retumbância,
Estanques na fábula,
Eram farsa, ignorância.
O povo? Pobre povo...
Da liberdade só ouviu falar
Quase sempre fulanos da Silva
Da Silva!
É demasiado o brilho solar,
A fulgência dos raios maléficos
Que nada clareiam o senso
Num instante sem céu,
Sem eira, sem pátria, nem beira,
Segue o aparvalhado menestrel
Os braços fortes de bem invadir
(coexistir nem pensar),
Penhorar a riqueza de outrem,
Não construíram igualdade
A ferida no teu seio sangra,
Ó liberdade, mas nosso peito,
Desafiado à própria morte,
Quer viver intacto,
Sem perfuração ou corte
Ó terra esta,
Amar-te?
Idolatrar-te?
Pagamento adiantado, sim?
Brasil de caos intenso, delírio vívido,
Um raio natimorto à terra desce
Tal turvo céu tristonho,
De outrora azul risonho
Bem oculta o meretrício,
Um hospício são e límpido
(agora, o sonho é morto)
Um cruzeiro torto de estrelas
Se deslustra, convalesce.
Não te esquece do seguinte:
Gigante não cabe no espelho
Nem pode ver que é narciso de si
Pela própria natureza colossal,
Tal bajulação é deveras natural
O chamam de forte e belo,
De galalão impávido.
Apostam firmemente na carreira
E na grandeza de seu futuro
(eduquemos, pois este filho imaturo)
Terra explorada
És tu, Brasil
Filho varonil
De mãe solteira
Arrumadeira gentil
Das tristezas
Deste solo
Eu sei,
Não deram colo
A ti, Brasil
No teu berço, comprado à prestações
Por onde os arquivilões deitam e rolam
Fez-se ao som do mar e da luz diurna
A desventurosa e soturna travessia
Avistaram a ti, florão da América
Saquearam a ti, Novo Mundo
Tua fulgurância, fragrância fatal
Atraiu mau-olhado tamanho para si
Da garrida terra que fostes,
Fostes também deflorada,
Apartada de teus floridos campos
Nossos bosques, amiúde, vão sumindo
Nossa vida, sem esteio, mais horrores
Terra assaltada
Usurpada
Sem socorro
Que és hoje, Brasil? Símbolo de quê?
Nem as estrelas lhe querem no lábaro
Nem o verde-louro podes mais ostentar
Teu naufrágio futuro, teu duro passado
Do anedotário, a piada: justiça!
No lombo comunista, a clava forte
Morte ao filho fugido, capturado
Eldorado tropicaliente, mal-acabado
Terra arrasada
És tu, Brasil
Covil de incautos
De assaltos muitos
Às dignidades
Entre tantas outras
Entre outras mil
Felicidades adiadas
Estavam as minhas
Eu sei: foi puro azar
Mas já acabou?
Ainda não
Senta lá, Joaquim,
Osório já te leva a cachaça
Aquela, Duque Estrada
A de sempre
E quem está no bandolim?
É Francisco ou Manuel?
É um fulano da Silva
Cabra bom o danado
Arretado da Silva!