QUANTA FALTA LHE  FAZ SEU LUGAR!
Onde está meu lugar?
Aquele habitual agora fechado
Por onde eu desfilava alegremente
Hoje “tapera”, “casa abandonada”
O local onde minha fala
Já não ecoa mais.
O vai e vem de pessoas e sonhos
Dispersas e “aprisionadas”
Agora estão em suas casas,
Mas não deixaram de sonhar.
Por vezes acordo a noite e penso:
Que horrível pesadelo!
Levanto, vou a cozinha até a geladeira
Tomo uma água e o pesadelo estar lá
Em meu pensamento e no plano real.
Saudosismo por meu lugar de fala
A pequena/grande  sala, a sala de aula.
Vejo pela tela as janelas
Seriam de fato meus alunos?
Uma foto que a mim sorri constantemente
Logo me mostra que algo não está bem
Ninguém sorri de forma constante.
A minha câmera ligada, supervisionado
Por toda terra habitada e interconectada.
Sinto-me pequeno mediante ao planeta
Sou apenas um professor, mas não posso errar
Se acaso eu disser algo errado serei julgado
Não pelo meu trabalho e a tentativa de acertar
Se eu acertar novecentos e noventa e nove vezes
Um o outro aplauso, mas se errar uma vez
Serei cancelado, o que virou moda agora.
E o meu aluno, aquele que nem celular tem?
O Estado promete, vamos doar!
E isso se dispersa em discurso vazio.
E na favela a fome aperta, a mãe chora
O filho implora por um pedaço de pão
Como dar atenção e estudar com fome?
Só queria estar naquele lugar de atenção
Por vezes o único, a sua salvação
Uma merenda “mirrada” suco e bolacha,
Mas tinha ao menos isso, a comida do dia,
Infelizmente não existe mais.
E a minha sala em casa não é mais sala
É a “sala de aula” transformada
Não posso mais ter privacidade
Tenho que me manter sempre arrumado
Para responder a qualquer hora
E tanto faz se domingo ou madrugada
As demandas não param, nem as lágrimas
O professor enfim desaba
Pelo cansaço ou pelo vírus
E quem o acolhe, quem o abraça?
No fim das contas ele está só
Mesmo que pareça estar com tanta gente
Nesse terreno insolente e árido.
Quanta falta lhe faz o seu lugar
Não apenas de fala, mas de socializar.
JOEL MARINHO