Borboletou com a Asa Dura 21

Os dias foram seguindo. Não queria sujar as vestes da alma, estavam branquinhas, queria fazer tudo certinho para, quando cerrasse seus olhos com a última respiração, fosse para o Reino de Deus, dormir o sono dos justos. Livre do fogo do inferno.

A juventude foi na metragem, da régua e do compasso, nos moldes dos preceitos da fé que seguia.

Ia à escola somente de saia, mesmo no inverno extremo, estava servindo a Deus, mesmo que as pernas chegassem a quase endurecerem de frio. Fazia os mais variados esforços na tentativa de, por eles, manter intacto o passaporte para a vida eterna depois que falecesse.

Maquiagens, rímel e baton, pulseiras, brincos e colares, calças compridas, e outras atividades, eram temidos, não dispensáveis, para aquela alma, recém chegada ao mundo.

Com todos estas vontades satisfeitas, daria oportunidade para Deus Poderoso distanciar-se da pobre alma, deixando-a exposta à tentação para queda no laço maligno, e na perdição eterna.

O beijo na boca, o abraço e o sorriso para o namoro, deveriam serem voltados para aqueles do grupo a qual pertencia. Com comedimento e respeito. Deixando a relação sexual, somente para depois que casasse, depois de confirmado pelo coração, e principalmente, de passado pelo crivo da família, e essencialmente, das condições batismal que era na Igreja.

Treze, quatorze, quinze, dezesseis anos; o entendimento indo para o lugar natural na mente, cada vez mais ocupando espaço no ser, como o processo do Sol. No alvorecer, anunciando o começo do confronto interno, para o Sol do meio dia raiar.

A fase ardente da juventude, como Zaqueu dependurado nos galhos da Figueira, olhando Cristo em sua pregação. A jovem menina, assustada pelo despertar da curiosidade sobre o mundo, olhava do alto, e à distancia, a realidade.

No ensino regular na escola, passando participar diretamente dos saberes dos mestres, visitando culturas, refletindo sobre a história da humanidade, suas religiões, suas guerras, seu ímpeto para a conquista e a destruição, todas as interações sofridas e dolorosas entre povos e nações. Junto, os destroços deixados para trás; fez a jovem se posicionar nos debates, mesmo que fragilmente, com medo e rejeição das conclusões, que começaram a aparecer. Passou estar consigo mesma na busca da verdade, em uma guerra inglória.

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Afinal, quem era? Para onde iria? De onde veio? Quem eram seus irmãos, amigos, amigos de outras religiões, inimigos, aqueles que sentia afeição e outros antipatia natural? o que fez de erro? Porquê estava na terra? Adiantaria lutar, viver? Afinal, viver da mocidade à velhice? Fazendo o quê? Assistindo a mortandade e a corrupção humana? Sabendo que teria o reino do céu somente depois da morte para ficar livre de tudo?

Teria que ficar mansa e pacífica assistindo a deslealdade e a crueldade como comum? Interagir com o mundo e cuidar do corpo, e não usá-lo? Procurar de todas as maneiras bloquear suas vontades mais íntimas, moldar e imprimir força para dentro, de modo a estancar não somente a dor, o horror pelo que aconteceu com o mundo e acontecia, mas o prazer, o desejo, que brotava de dentro como cachoeira? que demonstrava serem repetitivos, insubordinados, e insaciáveis? Pedindo para serem nutridos, atendidos constantemente, que fazia dela cãozinho domesticada para o atender do gosto?.

Na juventude, não entendia, não compreendia, com os recursos do próprio entendimento, o significado das palavras sagradas: Irmã, em nome de Jesus Cristo, Te batizo, em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo!”, seguia esta verdade como certa, porque Jesus Cristo, depois de ressuscitado, antes de ir embora deste mundo, tinha dito aos seus discípulo: Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.

A fé era desacompanhada da compreensão plena que dá a combustão para a vontade ser a chama que aquecerá o ser para o renascimento espiritual.

Tinha passado pelas águas do tanque de batismo, obedecido o rito para o renascimento, para o tocar do Espírito Santo. mas não havia sido despertada por si mesma para o renascimento espiritual.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 22/04/2021
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T7238415
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