Milagre líquido
Posterior a longa jornada,
um joão-de-barro recolhe-se ao seu ninho
no alto de uma araucária e repousa suas asas.
Com o lindo espetáculo do pôr-do-sol,
o astro rei também se despede do palco do dia
dando lugar à noite que se sobrepõe
e consigo traz seu manto negro salpicado de estrelas.
Aliás, as estrelas brilhantes só podem ser vistas à noite,
que revela diante de nós o mistério visível em outros tons,
o restante é camuflado pela escuridão.
A lua confidente espia a chegada
de uma multidão de nuvens carregadas de promessas.
A Terra, coberta por uma leve camada de pó,
parece intuir o que em instantes se fará presente.
O vento sopra anunciando a mudança esperada:
Tempo sereno em mutação serena.
Tudo pronto e o milagre líquido,
dádiva celestial,
encontra o acolhedor terreno fértil
que abriga os tesouros da vida.
É a água sagrada que sacia as sedentas sementes,
as raízes e outros pequenos seres vívidos.
E eu, em meu insólito ser, prefiro essa chuva dadivosa
de transparentes metáforas,
de melodia pacífica derramada do céu,
que esvazia as nuvens,
cai em incontáveis gotas,
dança nos telhados ao ritmo da própria orquestra,
lava as impurezas
e renova a vida.
Enquanto isso, uma diversidade de sementes
germina no silêncio dos seus desejos
e delas brotarão esperanças de cura.
O corolário ciclo vital da fotossíntese
torna a natureza mutável com ideal perfeição.
Também torna visível os milagres de Deus
num recorte do espaço e templo terrenos
aos olhos dos espectadores crédulos e incrédulos
das criaturas Divinas que formam a grande família humana...
E essa poesia viva, de pura emoção líquida,
faz prosa na alma poética e nos desafia
para descortinar o nosso coração
e descobrir qual é o milagre líquido vital
que impulsiona a existência
ou que desejamos desaguar.
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@janaina.belle