O ninho
Ela escolheu nutrir-me.
E eu sou seu passarinho de bico aberto esperando um alimento que me aqueça pelo lado de dentro.
Mas ela também me aquece pelo lado de fora, com o afago carinhoso do seu corpo que tem cheiro de amor puro e irresistível.
Quando seus lábios me tocavam pela manhã preguiçosa, antes de sair para o trabalho, eu quase acordava, mas permanecia sonhando, agora com seu cheiro invadindo meus sonhos.
Ela sempre soube o que fazer por mim, sempre alimentou-me de corpo e alma, - seu próprio corpo e sua própria alma -, doados sem reservas para que eu tivesse uma vida completa.
Sem ela talvez eu até subsistisse, mas não poderia ser um humano completo, não com os valores de agora, nem com as convicções que tenho hoje.
Quando ousei colocar a cabeça para fora do ninho foi ela quem soube a hora exata de dar aquele empurrãozinho para que eu saísse voando, para que eu não fracassasse em conquistar o mundo.
Ela sempre me nutriu de esperança, força, condições, porque ela tem a sabedoria de águia, a intuição das serpentes, a força da leoa.
Ela é a mãe mais extraordinária do mundo. E não, ela nunca erra! Pois tudo o que ela fez (e faz) é com o intuito de acertar para que eu seja feliz sem reservas, para que eu tenha uma vida completa.
Hoje, que já saí do ninho, às vezes ainda sinto seu cheiro invadindo meus sonhos, porque aquele beijinho que ela me dava quando saía para trabalhar significou muito pra mim. E hoje, se eu sei voar sozinha, é porque a brisa perfumada do amor de minha mãe é o que guia meus voos pelo horizonte de todas as minhas perspectivas.
Sou um pássaro que sempre vai voltar ao ninho, porque é lá que encontro a razão de ser a ave forte que me tornei, lá encontro o amor de minha mãe.