Varanda
Na varanda, meu olhar parece brincar de se esconder atrás da solidão, só para espreitar a noite recitando estrelas, em poemas pincelados no escuro. Penduro rede no brilho do luar, e descanso sob a colcha do silêncio. A rua insinua-se seminua para a ausência das pessoas. O vento é um deserto em caravanas de odores roubados do jardim.Vai sem direção definida, passando invisível no impalpável das luzes entristecidas, enfileiradas em postes.
As casas, na particularidade de suas paredes e tetos, abrigam famílias, cada qual como uma célula isolada no corpo da cidade. A vida e emoções de cada ser ficam na cumplicidade das antíteses. Folheio páginas saudosas ao mesmo tempo em que, em outras margens de meu pensar, aceno para outras esperanças.
A noite segue velejando pelo mar das incertezas, na mais pura sabedoria de que o tempo sempre constrói portos, mas nunca joga âncoras, e nem sequer pensa em descansar em nenhuma praia. Suas bagagens só levam espiritualidades, deixando-as espalhadas em diversos lugares, depois as rebuscando para novos rodízios. E, aqui da varanda, pendem diálogos e sentires, dos quais me faço personagem e plateia.