Outono

A cada outono, os ventos trazem pássaros novos, vindos sabe-se lá donde, sabe-se lá porque. Deve ser para acalmar o coração dos aflitos ou quem sabe fazer renascer o sonho dos poetas mortos. Os ventos e os pássaros anunciam a tristeza dos tempos. Mas aquele outono havia sido diferente: os dias pareciam mais cinzas, o vento cortara mais que de costume e os pássaros desapareceram por inteiro. Restara, portanto, o silêncio e a ausência do nada. Como morara à beira do abismo, Saulo cultivara a solidão como filha dos bons encontros com o vazio. Na casa humilde de pau à pique, sentado na cadeira em balanço, lembrara da esposa, da linda esposa, que cuidara feito porcelana até que a morte o levara. Desde então, nunca mais falou. Nem uma palavra sequer, um gemido que fosse, uma canção cantada para si. Nada. Habitara o silêncio como quem mora nos braços da dor. Recordara do sorriso à mesa do jantar, das lindas viagens que fizeram juntos, dos filhos que nunca tiveram. A memória, neste outono que outrora fora outro, era sua companhia, já que os pássaros atinaram saudar os tristes de outros temporais. Era um outono em ruínas, era o outono da espera.