Borboletou com a Asa Dura 17
Borboletou com a Asa Dura 17
Querendo me ter, perdi o sentido de posse. Ter o próprio ser, significaria esvair-se, abandonar a busca pelo centro, assumindo-me como água fluída.
Na água corrente de um rio, sou na folha seca sobre o leito, descendo corredeira abaixo, sendo levada pelo que me move.
O amor incondicional proposto pelo Mestre, pede a entrega à causa, embrenhar-se no mundo, vida, investigador e descobridor dos sentimentos, sabedor que a salvação ou condenação de cada um é individual.
Amar-se, depois dos anos, é aceitar as condições da caminhada, realizando o possível para o aprimoramento do que te representa como corpo.
É para aqueles que não se sentem mais confortáveis nas indagações, nas incomodações, na desmotivação, na incredulidade, na paralisia da vontade, na mesmice de ser sempre no quadrado asfixiante montado no interior, do ver, do ponderar e do comparar.
A dinâmica do amor incondicional é para aquele que decidiu subir o degrau do estar que sempre esteve "ali", assumindo para si mesmo que não dá mais para ficar.
Ter, se torna demais, saber, mais ainda, o cesto de coisas que se apropriou, perde o sentido de uso.
Nestes últimos tempos, o pensamento entrou em destaque. Manusear o desejo pela mente na tentativa de aquietá-lo, por não ser possível saciá-lo nas necessidades cotidianas; passear no shopping, assistir a um filme no cinema, ir a igreja, ao campo de futebol, a praia, a sorveteria, a rotina das reuniões, em família, na amizade.
Tudo feito de forma tão cautelosa, onde cada ato, cada movimento, revela o cidadão no temor da morte, seja no outro que espirra, ou na outra que fala um pouco mais próximo, ou naquele que relata que curou-se do contágio pelo vírus há poucos dias, que saiu da quarentena dias antes, que perdeu um ente querido logo a pouco pela doença nefasta.
Dentro, há o recuo, lembra o perigo do contágio. O medo e suas novas formas de interagir com a vontade.
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O enfermeiro, realizando teste no paciente para ver se tinha se contaminado com o vírus, quando insere o coletor em uma das narinas para fazer a retirada da secreção, se vê diante do espirro, que involuntariamente, aquele que era submetido ao exame, emitiu.
Dá um leve sorriso, terminando de realizar o trabalho. Logo depois, confirma, aquele que submetia-se ao exame, estar positivo.
Quem o alcançará, quem o salvará do temor e da morte? Somente ele para ele mesmo terá a afinação para continuar sendo na posição que se encontrou para o servir ao propósito no mundo. Somente ele para ele mesmo! A satisfação de ser enfermeiro quando acordar todos os dias pela manhã!
Responder a esta pergunta é não encontrá-la na terceira pessoa. É o mesmo que querer entender a mente de Deus, e do maestro na regência, do artista na realização da arte, do escritor e poeta na execução do obra.
Com a batuta, ele dirige, pontua, imprime força e intensidade, para cada músico em suas posições tocarem os instrumentos, executando as notas da melodia.
Para o maestro, a harmonia é a sua arte, compô-la, é sua obrigação. Dos músicos, a execução da melodia.
O silêncio, a apreciação e a apropriação de energia, do alimento e seiva, de quem assiste na plateia. É a ocasião.
Mudar para o rumo da espera, é o desafio. Nestes olhos que vê e se sente como integrante da situação, impossibilitada da colaboração prática , desafia o cultivo do gosto para estar em reclusão, servindo pelas palavras o que pela mente flui.
Não escapa aos olhos a avalanche de consequências acometendo famílias, povos e nações. Os problemas se amontoando, aguardando.
Solução que virá...