O doido
O doidinho alegre era desmiolado
Requebrava na feira em troca de um pedaço de requeijão
Era mudo, mas balbuciava bem palavra.
Se fazia compreender, até nas contrariedades.
Vivia no asilo, em casa qualquer, nos lotes vagos.
Tinha a alegria dos pobres, dos desvalidos
Dos agradecidos.
Mas era completamente desmiolado.
Requebrava por cachaça,
Fingia ser lutador de capoeira por um gole.
Macaqueava por bananas, para ganhá-las!
Desmiolado, dançava por caldo de cana
Rapadura, um agradinho qualquer.
Sua melhor arte era a macaquice
Subir em árvore, em poste, em qualquer altura.
Sorria, subia e se gabava.
O doidinho não tinha noção de perigo,
Era a alma mais leve daquelas paragens,
Mas um dia, do alto do poste tocou no fio
Não era terra, era eletricidade.
Teve os miolos esparramados no asfalto
Viveu sem miolos, morreu completamente desmiolado.