O doido

O doidinho alegre era desmiolado

Requebrava na feira em troca de um pedaço de requeijão

Era mudo, mas balbuciava bem palavra.

Se fazia compreender, até nas contrariedades.

Vivia no asilo, em casa qualquer, nos lotes vagos.

Tinha a alegria dos pobres, dos desvalidos

Dos agradecidos.

Mas era completamente desmiolado.

Requebrava por cachaça,

Fingia ser lutador de capoeira por um gole.

Macaqueava por bananas, para ganhá-las!

Desmiolado, dançava por caldo de cana

Rapadura, um agradinho qualquer.

Sua melhor arte era a macaquice

Subir em árvore, em poste, em qualquer altura.

Sorria, subia e se gabava.

O doidinho não tinha noção de perigo,

Era a alma mais leve daquelas paragens,

Mas um dia, do alto do poste tocou no fio

Não era terra, era eletricidade.

Teve os miolos esparramados no asfalto

Viveu sem miolos, morreu completamente desmiolado.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 11/04/2021
Código do texto: T7229242
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