A noite de onze anos

Sua noite durou onze anos

Onze dores, onze suplícios salpicados de dor alheia.

Ela trocou-lhe curativos, fraldas, muletas.

Serviu-lhe um banquete de soro, seringas e drogas benfazejas.

Ela lutou o mais que pôde.

Segurou sua alma com as próprias mãos

E não o deixava escapar, nem que ele às vezes desejasse ir.

Era inegociável, era altruísmo, era uma força estranha.

Ele suportou sua presença exigente, generosa

Mais que dores, mais que desgraças.

Não deixou que nada faltasse

Mas faltou consigo mesma

Por onze anos, onze noites, onze tempos.

Sem pausa, sem descanso, sem chance de fracassar.

Era do prato à prata

Do pus ao curativo

Da veia ao sedativo.

Ela era toda dele, mais que em tempos felizes

Mais que no palco da vida.

O era agora no palco da morte,

Contra quem travou uma luta dolorosa e insuscetível.

Então a morte golpeou-a no estante único

Em onze, onze minutos em que ousou afastar-se dele.

Ele agora era o anjo dela

Ela agora é quem está para sempre ferida.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 11/04/2021
Código do texto: T7229141
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