A noite de onze anos
Sua noite durou onze anos
Onze dores, onze suplícios salpicados de dor alheia.
Ela trocou-lhe curativos, fraldas, muletas.
Serviu-lhe um banquete de soro, seringas e drogas benfazejas.
Ela lutou o mais que pôde.
Segurou sua alma com as próprias mãos
E não o deixava escapar, nem que ele às vezes desejasse ir.
Era inegociável, era altruísmo, era uma força estranha.
Ele suportou sua presença exigente, generosa
Mais que dores, mais que desgraças.
Não deixou que nada faltasse
Mas faltou consigo mesma
Por onze anos, onze noites, onze tempos.
Sem pausa, sem descanso, sem chance de fracassar.
Era do prato à prata
Do pus ao curativo
Da veia ao sedativo.
Ela era toda dele, mais que em tempos felizes
Mais que no palco da vida.
O era agora no palco da morte,
Contra quem travou uma luta dolorosa e insuscetível.
Então a morte golpeou-a no estante único
Em onze, onze minutos em que ousou afastar-se dele.
Ele agora era o anjo dela
Ela agora é quem está para sempre ferida.