DE ONDE EU O CONHEÇO?


_______ estranho e inquieto é o objetivo do Tempo. Traz as lembranças e o amor desenhados na pele alva dos papiros. E no retorno à claridade dos dias, insisto em perguntar: - De onde eu o conheço?! Não há caminhos entre os veios da memória, que eu não os tenha percorrido, sem contudo, encontrá-lo. Haveria talvez, um outro caminho, que em algum ponto tenha se cruzado com o meu e assim, deixado as suas marcas indeléveis para que pudesse encontrá-las?! Os meus ouvidos são acostumados às suas palavras e a sua risada faz eco no meu coração. As marcas que no pó da eternidade servem de molde aos seus pés, e as suas mãos se encaixam nas minhas mãos, como se o fossem correspondentes pares. Minha sombra reconhece a sua sombra e na minha boca -, a sede é da água da sua boca. Os seus olhos enfeitiçam o meu olhar tal qual nachash enfeitiça o olhar do pássaro. Minha alma se perdeu da sua alma e havia de sofrer o medo da solidão absoluta - a noite sem lua e nem estrelas. E todas as manifestações de tristeza se passaram por mim e antes que me pudessem consumir, me sentei à sombra da grande árvore e perguntei: - De onde eu o conheço?! E a serenidade da resposta, foi como o perfume dos narcisos, que à beira d'água, desabrocham seu olor embriagando nosso olfato, nos dando a salvação de sermos dois em um.


 
imagem: Sementes ao Vento
Aquarela sobre papel Canson
Luciah Lopez