Errante

Tendo a lua por testemunha

Olhou o vazio a sua volta

Despiu-se de sua armadura

em prantos desfez-se

soltou o grito que fora calado.

No frio do desamparo

Tremeu até seus sentimentos eclodirem

abraçou-se...seu corpo açoitado pelo tempo, escondido sob o manto de coragem, tão vago.

A noite por testemunha observa calada  feridas abertas

o gemido sentido que em seu íntimo reverbera.

Pobre, intensa alma inquieta

Arredia ao tempo, antes seu aliado

agora, seu arque inimigo...

em seus dedos trêmulos rabiscando o nada, buscando algum encantamento

do tempo que fora perdido.

Sob a imensidão do universo, nua de adereços, ela busca inspiração

talvez um distante recomeço

Sob o véu do luar, envolve-se

Em seu rito pela busca de algum vestigio

Das emoções a tempos perdidas

Do branco dos pensamentos

Do branco das linhas

Do branco... translúcido, inerte, confuso

oco, fosco de suas idéias

Errante ela vagueia pelos quatro cantos do músculo que ainda bombeia sangue em suas veias

Tateia às cegas, fragmentos de alguma centelha...

Que seja alívio ao torpor do nada

Que seja ouvido no silêncio, que sob sua noite escura resplandece o ser reverso.

Ao longe, pelas fendas da memória ela entrevê a inspiração sob o teto de estrelas ressoar.