Perdoar

PERDOAR

(A dificuldade de perdoar e seus benefícios)

Pode alguém cheio de defeito

No meio de tantos, perdoar?

Perdoar é deslembrar, é aclamar a voz do eu.

Perdoar, não perdoar, perdoar?

De contínuo, põe de pé em êxtase, perdoar?

Como posso indagar o eu perdoador,

Isolado, imergido no ficcional, a não ser

Relevar e realmente perdoar?

Perdoar o que o próximo traz de bom para alma,

Fazendo-te livre da culpa, na leveza, que sopra no ar.

É ceder, ou certeza de perdão, ou puro desejo?

Perdoar serenamente, deixando as águas turvas do mar,

É ter a humildade ou a simplicidade de relevar,

E perdoar, o inclemente, o rígido,

Uma taça trincada, sem nada pra beber,

E um coração quieto, que no real grita no peito,

Bem como a águia ao voo pleno.

Assim é a nossa final: perdoar sem medida,

Repartido por fatos falsos ou desleais,

Oblação imensa a uma perfeição do não agradecido,

E na ostra oca do perdão a busca inerme,

Resignado, carente de mais perdão.

Perdoar a própria falha de não saber perdoar,

E na ânsia própria, perdoar a onda revolta,

E o selo silencioso de anseio sem fim.

(J.F.D.O) Pseudônimo (Esther Misther)