Entrever
A única coisa que sei fazer é escrever. De resto, minto. Minto pra me sentir primitivo. Minto pra sobreviver. Escrevo ao computador o que sinto. Escrevo pra adormecer. Pra esquecer. Escrevo porque existo. As palavras me povoam. Elas insistem e atordoam. Nem escondidas, nem guardadas. As palavras vivem enclausuradas. Inexistem em canetas enlutadas. As palavras sobrevivem, e só revivem quando saem pra fora, pro nada. Explodem do peito feito granada. Como vômito, enxurrada. Um estrondo. O barulho das palavras é um coro, pode ensurdecer ou fazer acordar do coma. Escrevo pra me tornar pessoa, escrevo pra refazer os sintomas. Escrevo e ponto.