Eu e uma taça de blues

Ao que não trago solução, guardo nas gavetas empoeiradas da espera onde são veladas pelas expectativas de um futuro brando em respostas claras, ainda que duras e fartas de talvez.

Ao que não trago solução, um brinde em taças tintas, ao som manso e profundo do blues que fala mais a mim que o simples silêncio.

Ao que não trago solução, deixo as interrogações tão costumeiras que nunca se findam, mas que se sobrepõem a cada simples sinal do enfim, pois eis que sou movida por questões que me impulsionam, como falso amigo a beira do abismo a incitar um passo a mais.

Ao que não trago solução, deixo inundar-me de notas secas, a fim de que toda consciência se desvaneça e me leve ao profundo apagar das horas, até que o sol nasça rasgando mais um dia sem guia, sem bula, só gula e sede diante do mar da vida, única fonte ilusoriamente interminável a se doar diante de mim. 

Ao que não trago solução, não declaro guerra... Na verdade, já não a quero mais, não mais... ergo bandeira de paz... até que tudo se afogue em novo esquecimento, e sendo esquecido, se torne simples, simples como todas as revelações em tempo hábil, útil, que se desfazem na pressa de saber enquanto não há solução. 

Gil Térez
Enviado por Gil Térez em 28/03/2021
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