Trezentos mil
Antes de mais nada, quero deixar dito: me solidarizo. Solidarizo com a dor e o luto de cada um de vocês, porque o ardor da doença e a ausência da morte é o que há de pior nos tempos. Solidarizo porque sei que sofrem. Solidarizo pelos medos e pelos apelos e por essa ansiedade absurda que lhes habita o peito. Queria poder abraça-los e iludi-los descaradamente dizendo que vai passar. Poder lhes curar a insônia, afagar o receio e os fantasmas horrendos que estão aí, a lhe parar. Mas não. Os tempos são de solidão. Tempos de reclusão e de se experimentar, sozinhos, nesse caminho. Um drama coletivo, mas que no fundo estamos a sós. E perdidos. Se me permitem uma pista, amem. Amem de se lambuzar. As pessoas, as coisas, os bichos, as plantas. Amem os restos e os oprimidos. Amem de tanto se amar. Porque de resto, meus amigos: o resto não há.