Ninguém se lembrará que passou pela terra um tal Azer.

Hoje ele partiu, de forma serena,sentado na cadeira de balanço
olhando o horizonte,lembrando alguma de suas aventuras, com a visão embaçada devido ao alto grau de catarata, observando uma centelha de luz.Talvez imaginando alguma anedota para contar, no encontro esperado com a vó Maria, ou um dos irmãos que deixaram ele ir ficando.
Verdade que o tio Azer, o mais velho dos seis irmãos dos "Pena", definitivamente não era um ser humano comum. Muitos irão lembrar dele com a analogia com o Jorginho Guinle que se orgulhava em dizer que NUNCA trabalhou na vida.
Sim ele se gabava ao contar suas estórias e dizia dos irmãos que todos eram extremamente estressados, e por isso partiram antes.
Ele não, por mais preocupante que fosse a situação gostava de dizer para quem quisesse ouvir :
- Eu não vim para esse mundo para trabalhar, eu vim a passeio.
Diferente do "Guinle" que possuía uma enorme fortuna e colocou tudo a perder com festas e romances com mulheres famosas, o meu , agora saudoso tio Azer , trocou o casamento com a tia "Titina" pela então, empregada da casa, e com ela viveu por muitos anos, mas definitivamente não largou a boemia.
Amava as noitadas, a cerveja sempre foi sua companheira mais constante, e conhecia o sabor de todas as pingas das "boas".
Tio Azer é difícil definir. Piadista, cheio de causos engraçados, antes de tudo um personagem, por mais séria que fosse a conversa, ele logo vinha com umas tiradas hilárias.
Teve a vez que meu pai, ao apresentar-lhe um pastor de uma Igreja evangélica, senhor de uma aparente seriedade, que em seus sermões era enfático eloquente, principalmente ao pedir dinheiro para os "fiéis", a primeira pergunta que o tio Azer fez, pouco depois de ser apresentado foi:
-Pastor, o senhor sabe onde fica a Zona aqui nessa cidade?
Foi um grande constrangimento, mas ficou na estória. Acho até que o pastor, que muito aborrecido com a pergunta, sabia onde, mas não queria dar a informação ao meu tio.
Ele muito se vangloriava, que ao ser perguntado, sobre os muitos anos em que viveu na fazenda chamada Boa Esperança, onde havia um grande cafezal cultivado pelos Pena, se ele já havia percorrido algum dia os limites da propriedade, ele rindo respondia:
-Acha que eu sou de subir morro? Isso é para os que gostam de trabalho, eu só fico aqui olhando. E provocava risada em todos.
Gostava de uns "negocinhos" só para não dizer que dependia exclusivamente dos irmãos e da mãe.
Vendia semente de capim, mas misturava com um pouco de terra para aumentar o peso, causando prejuízo em quem comprava, e fazendo depois os irmãos pagarem os incautos que caíam em sua lábia afiada.
Certa vez, ao vender um carro antigo, supervalorizou no preço, dizendo.
-Sabe esse carro, é Histórico, pertenceu ao Silvio Santos.
Outra vez ao vender uma mala dessas antigas, que hoje estão voltando a moda, e pediu um alto preço.
-Essa mala? Foi da Marilyn Monroe quando veio ao Brasil.
Muitos acreditavam, ou como era um personagem, fingiam acreditar.
Daqui a alguns anos, fica esses relatos,e a certeza que um dia passou por esse planeta terra, uma pessoa que não cursou nenhuma faculdade, nunca "pegou no pesado", mas que como ele mesmo disse que veio aqui para "passear".
Cumpriu sua palavra, divertiu muito, e fez muita gente rir de suas façanhas.
Descanse em paz tio Azer.