Maturidade
Se pudesse rebobinar o tempo, voltaria à minha infância na fazenda, correndo no pátio, comendo frutas colhidas no pomar, nadando nos rios, contando estórias com a vovó e fazendo peraltices com o vovô. Se soubesse que as distâncias entre as gerações não existem, pois a vida não admite replay, teria aproveitado mais os meus avós. Entre os dias de convívio, não entendia muito bem quando o vovô coçava a cabeça como se quisesse tirar de lá uma ideia. Ao lado dele minha avó ajudava a encontrar soluções. Não entendia porque os mais velhos reclamavam que não dormiam a noite. Foram necessários 25 anos para que eu pudesse compreendê-los. Foi quando numas férias, pela primeira vez, passei acordada a noite e ver os meus pensamentos povoados de preocupações. Me perguntei, isso é ser adulto? E na hora me lembrei do vovô. Ao invés de coçar a cabeça, eu colocava o dedo indicador sobre a boca com se desse o comando para nada dizer antes de ter uma ideia formada sobre o assunto. Foi então que entendi que a maturidade havia chegado para mim também. O meu avô já faleceu, a minha vó, aos 90 anos, luta para viver. Entendi ao observar os pássaros revezando a liderança que a mudança é lei da natureza. A vida é inquieta, ai de nós se formos quietos demais, porque seremos devorados por ela. É preciso acompanhar o tempo, seguir o fluxo, ajustar as velas e jamais parar de aprender. Mas, o meu sentimento de “adultez” veio junto com as responsabilidades do trabalho, do cuidado com os meus familiares, com compromisso de pagar todas as contas e colocar o melhor banquete na mesa da família. Nada diferente do que é para a maioria dos terráqueos. Se formos atentos, a vida sempre nos dá uma ideia do que será, é preciso ser “sempre alerta” como nos lembram os escoteiros. A maturidade veio com o fim de um amor. Natural, no início surgiu o medo, vários, mas aos poucos aprendemos a ficar de pé. A maturidade não poderia ser somente responsabilidades, mas é também exercício de autonomia, autoconhecimento, tomada de decisões. Que coisa gostosa! A maturidade inquieta e desassossega a gente. Dá a sensação de renovação e renascimento! Que bom poder se olhar frente a frente no espelho e dizer, vamos... eu conto com você! Os amigos são poucos, aqueles escolhidos, para nos acolher na alegria e na tristeza e tudo mais é entre Deus e mim.