As santas tagarelices de vizinhança, e aquele sempre buscado algo mais...
""" Viver a vida de paixão em paixão! mesmo que escravizados...
...Olha, isso certamente é beeeem melhor que querer saber tudo da vida, e acabar solitário, chorando e bebendo feito um beberrão de balcão. """
(Armeniz Müller.)
""" Quase já crepusculava na fria e socialmente ainda mais esfrriiiaaaada Curitiba, quando o corpulento Joaquim Gregoriano, um simpático faz-tudo (marido de aluguel?) ali das cercanias, fez-se anunciar no concorrido portão de dona Maria das Dores, sendo ela ainda assim uma charmosa, respeitável, comunicativa e saudável senhorinha dos seus setenta e poucos anos, mui bem vividos. Uma quase ainda cabritinha, por assim dizer...
E eu ali me acotovelando pelas circunvizinhanças, de olhos e ouvidos mais que aguçados, pra lá de espichados naquela amorosa direção:
- Dona Maria, dona Maria! Livrou-se já das suas costumeiras dores, dona bonita Maria?
- Nadica de nada, seo Joaquim! E tanto doem estas minhas dores, que até fazem parte do meu nome, o senhor percebeu?
- Aiaiaiaiai... A senhora que me adiscurpe, dona Maria das Dores! Mas é que queixando-se desse modo continuado, a senhora acaba sendo mais uma prova viva daquelas tristíssimas verdades verdadeiramente verdadeiras, que o poetinha tanto apregoa pelaí... A senhora me entende?
- Vixe! Deu pra falar difícil também agora, seo Joaquim Gregoriano? Lógico que não entendi patavina, homem... Mas venha, venha, entre, entre... Entre aqui comigo, que durante o café quente e fumegante, até esta nossa prosa pode esquentar, o senhor sabe como é...
- Huuummmm... Se sei, dona Maria das Dores! se sei... Até a prosa pode esquentar...
- Aqui, aqui... O senhor pode se assentar que agora nossa prosa vai crescer, seo Joaquim... Ora, se vai... Mas diga lá, o que o senhor quis dizer coessas bonitas palavras?
- É que elas nem são minhas, dona Maria das Dores, mas guardei o que pude entender do palavreado do poetinha... Ele é quem vive pelaí, falando as verdades dium jeitão triste, bem triste, o coitado do bom homem escrevinhador.
- Isso é bem verdade, seo Joaquim... Tão bonitinho, querido e pra lá de inteligente, mas assim tão tristonho, o coitado! Mas conte pra mim como um homenzinho de tamanha inteligência, pode ser assim tão triste, seo Joaquim. Depois dessa caneca de café com o meu bolo de chocolate caprichado, claro...
- Claro, claro, dona Maria das Dores! Nem carece lembrar o quanto seu bolo é caprichado... Afinal, a senhora sabe porque eu gosto de entrar aqui...
- Sei, sei... Sei, sei, seo Joaquim! E porque será que eu capricho tanto no meu bolo de chocolate pro senhor... Hehe, responda pra mim, seu espertinho?...
- Ora, ora, assim a senhora até me encabula, dona Maria das Dores...
- Deixe de timidez, que eu sei bem do que o senhor mais gosta em mim... Mas, e sobre a tristeza do poetinha, o que mais o senhor sabe dele, seo Joaquim?
- Pois é, dona Maria das Dores... O pobre homem, dia desses ainda, quando de passagem pelo boteco da Matilde boazuda, isso também me adiscurpe, num dedinho de prosa enquanto pagava umas cervejotas pra gente, ele mesmo explicou que as suas palavras queriam dizer alguma coisa assim como as pessoinhas que sejam educacional e culturalmente "menos descortinadas", passam a ter maiores chances de serem felizes que as demais, aquelas que quase morrem de tanto estudarem e se aprimorarem nas relações culturais, politicas e sociais... Alguma coisa assim como aceitar ou não aceitar a ignorância ou a evolução, ou ainda hoje em dia se contentar em viver a vidinha simples e amorosa herdada dos seus pais... Parece que foi mais ou menos isso que ele quis dizer coas palavras dele: quanto mais burrinhos e amorosos, mais felizes! Que tal isso, dona Maria das Dores?...
- Que palavreado bonito, mas difícil de entender, homem do céu! Não é à toa que ele é conhecido por poetinha... E você então, Quinzão! Lembrar e repetir tamanho pensamento do poetinha sobre a humanidade... Você também não é nada fraco das ideias, gatão! Passe pra ca, no sofá, que vou te servir algo bem mais caprichado que café com bolo, Quinzão!...
- Huuummmm... Agora sou eu quem diz vixe, dona Maria das Dores! Algo ainda mais caprichado que o seu café com bolo de chocolate? Não me venha com provocações que não possa satisfazer... digo, que não possa cumprir, dona Maria das Dores.
- Você que pare de me apoquentar coessas tuas safadezas, digo, bonitezas, Quinzão! Afinal, quer ou não quer meu algo mais, homem do céu? Diga logo, antes que me recomecem aquelas minhas dores...
- Tá bom, tá bom, "das dores"! Vamos lá pra dentro desfrutar desse seu algo mais...
E assim, imagino que dona Maria das Dores ganhou mais um cuidador para as suas dores. """
* * *
Cruzes! Confesso que eu também escutei boa parte da conversa... Mas o que poderia ser esse "algo mais", que dona Maria das Dores garantiu ser beeeem melhor que bolo de chocolate fresquinho, com café quente?!...
Enquanto isso, ali do escondidinho da minha janela, eu mesmo percebi quando o poetinha, tadinho! assimmeioassim tristonho mesmo, guardava seu caderno de rascunhos ainda com os olhos e ouvidos espichados naquela direção. Decerto qualquer dia escreveria alguma coisa sobre aquele maduro namorico de portão...
...Será que os poetinhas são assim mesmo, vivem pra lá e pra cá metendo seu palavreado bonito na cabeça da mulherada, mas na verdade só acabam preparando as alcovas para o resto da marmanjada, assim como os aconchegantes bercinhos para os lindos bebês que nesse embalo por certo logo hão de nascer?
Armeniz Müller.
...Oarrazoadorpoético.
Obs: Publicação simultânea em minhas cinco plataformas on-line.