Mil faces

História e não ficção,

Escrevo em desabafo,

Na solidão de alguém que perdeu referências,

Não restaram pessoas partilhando um passado em comum.

Escrevo em código, de forma prolixa,

Tentando encobrir o óbvio.

Censura do amor, que ainda teimo em sentir,

impedindo-me de dizer o que sei.

Para elucidar perguntas,

Desnudar verdades.

Enxergar claramente, o que outrora,

não imaginava em sonhos ou pesadelos.

Ela, que em minha infância foi modelo para mim.

Cheguei a invejá-la pelos predicados

que acreditei possuir.

Inveja sem corrosão,

isenta do destruir.

Inveja admiração.

E algumas vezes,

ciúmes, admito também.

A mãe preta da mãe de mamãe,

com olhar que transcendia a visão

toda noite pedia-me para ler

“São Jorge” para protegê-la.

Hoje não rezo mais.

E mais nada sei sobre ela.

Mas já fui confidente,

Inocente receptáculo

de mentiras resvaladas

para a insanidade.

Face oculta encoberta

Olhar aparentando inocência,

Para ganhar absolvição

Mil faces

Doce e amargor.

Palavras jurando inverdades,

Solenes mentiras e traição.

Mistério e cilada

O Misto perplexo de

Anjo e demônio,

Menina e mulher.

Insana maldade,

com quem convivi.

Cresci e ultrapassei

Em mentalidade, progressos.

Plenitude desconhecida para ela,

Que guarda em entranhas,

Mágoa, ódio, infâmias.

Tanto despropósito.

Tudo tão sem razão.

Inventora da lógica invisível.

Irracional.

Armadilhas, arapucas,

Tocaia, facas e mãos.

Falácias, destruição.

Tempo veloz escorreu

Tessitura de intrigas e rancor.

Tempo que esvai, não espera.

As pessoas desaparecem nas brumas

É chegada a hora de não ter mais ninguém,

Cobrindo sonhos, cansaço.

O edredon se rasgou.

Aparece o frio e o medo.

Não dá mais para amenizar defeitos,

nem refugo de punição.

Índole escondida e perdida.

Se outrora, levasse bronca ou palmadas,

Talvez não engessasse o coração.