Sonhos
Quando criança,
assombrava-me a noite
à hora de dormir,
Pesadelos medonhos
povoavam meus sonhos:
[...] desorientado
correndo à campanha
de um alto trigal sem fim,
Rompendo a bruma
às carreiras, desesperado
sem sucesso de avançar,
Lanço-me ao chão
lamacento em pânico
estado de feto prostrado,
Submetido as sombras
que me perseguem,
imploro a absolvição
de um pronto despertar...
[...] à medida que cresço,
volta e meia anoiteço
ensaiando serenidades
no afã de encarar os medos,
Não que sonhe alto, pois,
nada do que sonho realizo,
Evoco voos sensitivos
fugindo do desconhecido,
ainda que voo breve e razo,
Na precisa hora suspensa
Vôo sempre voos precisos...
Noutro sonho recorrente,
do mesmo ponto de partida
como que num estágio
de jogo salvo:
[...] caminho caminhos,
nesse, um deserto que finda
aos pés da serra escarpada,
talhada sem fim nem começo,
impele-me a ríspida subida,
cada vez mais íngreme, esculpida,
do meio pro cimo, um tropeço
uma pedra falsa, um arremesso,
Meu corpo caindo novamente
em espasmos de sono
desperto, salvo outra vez [...]
Temo a proximidade do dia
em que a noite não termina
e fatalmente enfim conheça
o que me espera lá em cima.