Rascunhos do Diabo

Meu olhos não fecham.

Tudo é multicor.

Tudo tem vida.

Até mesmo o sofá está respirando.

Eu estremeço por um segundo ao perceber isso.

"Em que porra de forma de vida estou sentado

enquanto escrevo o que ninguém vai ler?"

Comi os cogumelos às 22h.

Agora são 23:40h e os efeitos estão

chegando, me fodendo bonito

com direito a beijos de língua e tudo, mas que beleza.

Não consigo conter o riso.

Um crânio, um lobo.

A guitarra de Mephistofeles está longe.

Está aqui!

O maldito vai me pegar.

Meus olhos não fecham.

Não consigo, mas não sei se realmente quero fechá-los.

Não tenho certeza de que vou achar PAZ aqui dentro, não.

"Deixa eles abertos, maluco" uma voz me diz.

Puta merda, espero que o efeito tenha passado pela manhã.

Como vou trabalhar rindo da cara repugnante de cada filho da puta que vou encontrar pelas ruas?

As máscaras, elas não os escondem.

Os imbecis mal sabem usá-las.

Consigo ver seus bicos, suas corcundas e suas garras sujas de sangue todos os dias.

Eles deveriam andar cobertos, mas não apenas por orgulho, ganância e egoísmo.

Vou abrir as barrigas de todos vocês, aves de rapina.

Voltem aqui, se tiverem coragem!

Há uma porta em minha mente e sei que se ela abrir, irei enlouquecer.

Sinto que a situação se tornará desgraçada de vez.

Tenho que voltar.

Pousar.

"Relaxa, só tem você e o rato aqui."

Jesus.

Um pequeno Jesus vivendo embaixo do fogão,

alimentando-se de restos podres e ressecados de comida.

Um roedor pronto para morrer e nos salvar. Pronto para ser crucificado morto e sepultado para nos livrar das delícias de cada pecado.

Amém.

Agora tem um olho dentro do meu cérebro.

Eu o vi, um grande olho longínquo

e dentes espectrais prontos para devorar massa encefálica.

A minha massa.

Os pensamentos são flashes.

Tanta rapidez vai acabar me matando,

meu coração pode não aguentar.

Posso ficar horas olhando essa foto, meu amor.

Sua foto.

Ela respira, vive.

Ela não me deixa só.

Quero lamber esses mamilos,

quero amor com você e com a terra ao mesmo tempo.

Quero chorar no teu colo.

Quero estraçalhar miolos.

Os meus...

...meus ouvidos,

o demônio me acalma.

Para onde vão tantas teias de aranha?

Parece que estou no próprio do inferno.

O celular na minha mão está completamente torto, na verdade, derretido, está desfazendo-se...

Tenho que segurar o riso.

Enquanto isso, um gnomo gargalha dentro da minha cabeça.

Tem gnomos em tudo, na verdade, não só aqui dentro.

Eles querem me ferrar,

me fazer rir até morrer.

Só pode.

São as cerimônias do cão.

Finalmente tomo coragem,

fecho os olhos para poder ver...

E vejo.

Um é tudo.

Tudo é uma única forma de vida.

A raça humana não vai a lugar algum.

Não sabemos o que fazer.

A raiva se foi, só tenho lágrimas.

Não sinto nada além de pena.

Pena por todos nós.

Principalmente por cada criança.

O simples fato de pôr uma criança

em todo esse esgoto deveria ser no mínimo um ato infracional.

O que posso (podemos) fazer além de sobreviver?

Para quê o esforço?

O mundo é pouco.

Existir não é o bastante.

Esse pensamento martela até minha cabeça doer:

Existir nao é o suficiente.

Descer pelo ralo

ou morrer não é o suficiente.

Vida e morte, isso não é tudo.

Somos só poeira pedindo atenção.

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 17/03/2021
Reeditado em 17/03/2021
Código do texto: T7209480
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