Relato poético e solitário de um proletário
E-mail institucional. Whatsapp. Mensagens acumuladas. Informações desencontradas. É oficial? Não, é apenas para conhecimento. Agendamento de aula on-line. Preparo de PowerPoint. Elaboração de provas oficiais através do Google. Mensagem da orientação solicitando faltas de aluno x. Pai questionando a nota do filho. Professora, a senhora tem que ter mais empatia com o meu filho! S-O-C-O-R-R-O!!!!
Desde o dia 16 de março de 2020 até o final de janeiro deste ano, nós, professores, ficamos à mercê de uma solidão inenarrável: as aulas fluem, e a aparência de que tudo está fluindo bem se esvaí quando há uma tentativa de diálogo com o aluno, que está separado do professor, por uma tela de computador: faz-se o completo silêncio ensurdecedor.
Jovens ansiosos. Pais apreensivos. Família doente. O choro de uma adolescente de 16 anos que perdeu o pai para a Covid-19 cala ainda mais o silêncio das lives. As gêmeas que são separadas pelo fatídico ano de 2020: uma mora na Terra, a outra, no céu. Era linda ela, futuro promissor.
Abril, o mês cedeu à Pandemia e fomos colocados em descanso remunerado. Rotina de leituras, tutoriais do YouTube, cursos on-line para operar as ferramentas novas. Leituras e mais leituras sobre a ansiedade. Ida ao mercado para abastecer, medo! Máscara, álcool em gel. A ignorância dando entrevista na tevê; era só uma gripezinha.
Maio sem abraço na mãe. Junho sem abraço no pai, sem festa junina, e com luto: Jorge se foi, Anderson também; Clara lutou, mas foi vencida pelo vírus, e o Yamazuki, tão jovem, sucumbiu. Kalil, Marquinhos, José Márcio. Todos eles, agora são mais de 250 mil, professores, pais, mães, médicos, enfermeiras, pedreiros, estudantes, filhos, pessoas.
País de maricas? Laerte rabisca, Laerte protesta. Laerte adoece. Laerte volta. Não, presidente maricas. Teme censura? Vai pra Cuba.
Pretos mortos. Pretos expostos. Solidariedade nas redes sociais. Fake News também. Eleições? Invasão do Capitólio – não de Minas, este está cheio de turistas, há pandemia? Adoece também a democracia, resiste à base homeopática: calma, tudo vai passar!
Maradona parte. Zezé chorou, dias depois, sem ar, partiu também! Eu não consigo respirar, é Manaus que grita. Cilindros de oxigênio. Jet Ski do presidente, aglomeração. Vai colapsar se tiver reuniões, cuidado! Janeiro chega, festas lotadas, UTI aguardando. Hospitais de campanhas fechados, mas e carnaval?
Médicos apanham. Políticos choram. Extrema direta defende a ciência. Presidente, cadê você? Pobres ficam paupérrimos. Gás aumenta. Gasolina cara. Presidente, cadê você? Professores voltam, como numa guerra... somos soldados armados de flores e livros! Aula on-line, híbrido, diário, empatia, redução de salário, desamparo, calvário, martírio. S-O-C-O-R-R-O!!!!!