Ainda resta
Sou feita de pedra...de entulhos...
Não nasci assim...
Foram eles que me tornaram concreto...
Dura e mordaz como chumbo.
Tatuaram na minha pele seus demônios...
Rabiscaram minha vida com tinta vermelha...fizeram-me escombros
Roubaram meus sonhos...
Sou parte negra de uma tela por tantas mãos borrada
Mas dentro de mim...escondi todos os meus desejos...
tranquei o sopro que ainda restava dentro de mim...doei tanto de mim em amores rasos, de vontades descartáveis, tornaram-me uma muralha inabalável.
Fiz-me forte mergulhada em meu pranto
Emergi do precipicio que fui arremessada por tantos.
Juntei meus pedaços, alinhavei minha alma, com todo meu sentir petrificado.
Nem sei definir as incontáveis vezes que morri e renasci de cada ir e vir
De cada pedaço meu arrancado de mim.
Ainda resta o último amor, que a mim não se apresentou.
Um amor ainda que almejado, nunca antes vivido, a tempos esperado, talvez ele nem exista, e seja um mero deslize da minha imaginação.
Perdi a noção de tempo, de espaço
Pode ser que seja uma das tantas divagações, ou a memória de uma ilusão.
Apenas sei do beijo que ainda não dei
O afago que não senti, o arrepio que ainda não despertou.
O abraço que envolve o vazio, que não reivindicou seu lugar, seu espaço.
Dentro das minhas muralhas, ainda trago o afeto, a espera de tudo que ainda não vivi, ainda guardo o fôlego, ainda uma timida crença, que em meio ao meu amontoado de pedras, esse desconhecido amor novamente floresça.