[O Outro]

Não, o alvorecer de um dia nunca me intimida,

meus olhos anseiam pela claridade crescente;

o entardecer nunca me espanta,

mas apenas, sabendo-me como ninguém,

põe o outro, aquele que vive oculto dentro de mim

a espiar pela brecha do dia que aos poucos se fecha.

À noite chega, e arranco-me da casca grossa do dia,

o outro, um lobo estranho, porém sensivo, estará à solta...

Rompida a carapaça, de pelos eriçados e garras à mostra,

ponho em fuga os temores: ouso ínvios caminhos...

Até quando?! Não sei, e outro de mim também não;

o Fim, não nos concerne: nos "deveniremos" em Nada...

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[Penas do Desterro, 01 de novembro de 2007]