A doença
Um caroço só é um caroço quando não está no pescoço ou num foço de partir. Um caroço no pescoço é um motim. Dentro de ti pode ser um festim, uma vida ou uma mina que acaba de explodir. Apalpado a cada ano que vivi. A cada vista da varanda, do consultório ou da quitanda, a bandana de cetim. Raspa os cabelos e gargalha de tanto que se rasga de existir. A febre baixa, a febre fala em caixa, meu marido me sorri. Pega na minha mão e ri. Pega meu quadril e encaixa. De novo me gargalho e me imagino impregnada de remédio pra dormir. Vivo de tão feliz, vivo de viver por aí. Tenho a carne ensanguentada, tenho a vida na muralha, tenho sonho de guri. Toco o tambor da umbanda e meu cabelo de aruanda deixa de cair. O caroço desalmou, o meu filho se formou e eu gargalho porque o caroço era só um caroço que o passado me brindou.