Geração sem rosto
No século XXII menestréis cantarão sobre a geração sem rosto.
Dos mascarados só se via os olhos e olhos são sempre enigmáticos, nem sempre dizem a verdade.
Alguns olhos são janelas, outros portão lacrado com cadeado.
Os rostos, idealizados.
Será a boca grande, pequena, os lábios finos ou grossos?
Serão os dentes alvos? Tortos? Feios ou bonitos?
Estará feliz o sujeito na fila da carne?
Estará feliz a moça na fila do pão?
A ruga na testa já estava ali fincada pelo tempo ou é só uma ruga de preocupação?
Ruga sem boca não vale nada!
Alguns aprenderam a sorrir com os olhos, outros têm sempre olhos chorosos, nem todo olho sorri.
Então todos caíram na rede, pra ver boca. Sem boca o rosto não é rosto, é interrogação.
Mas na rede todo mundo tem máscara, todo mundo é feliz, toda boca é carnuda e até o olho que não sorri, ri.
Na rede não pode chorar, estrebuchar, não é permitido ser.
Na rede, sem máscara, continuamos sem rosto, de máscara.
O trovador vai dizer: "Ah, geração sem rosto! Rosto nenhum se fez conhecer!"