Geração sem rosto

No século XXII menestréis cantarão sobre a geração sem rosto.

Dos mascarados só se via os olhos e olhos são sempre enigmáticos, nem sempre dizem a verdade.

Alguns olhos são janelas, outros portão lacrado com cadeado.

Os rostos, idealizados.

Será a boca grande, pequena, os lábios finos ou grossos?

Serão os dentes alvos? Tortos? Feios ou bonitos?

Estará feliz o sujeito na fila da carne?

Estará feliz a moça na fila do pão?

A ruga na testa já estava ali fincada pelo tempo ou é só uma ruga de preocupação?

Ruga sem boca não vale nada!

Alguns aprenderam a sorrir com os olhos, outros têm sempre olhos chorosos, nem todo olho sorri.

Então todos caíram na rede, pra ver boca. Sem boca o rosto não é rosto, é interrogação.

Mas na rede todo mundo tem máscara, todo mundo é feliz, toda boca é carnuda e até o olho que não sorri, ri.

Na rede não pode chorar, estrebuchar, não é permitido ser.

Na rede, sem máscara, continuamos sem rosto, de máscara.

O trovador vai dizer: "Ah, geração sem rosto! Rosto nenhum se fez conhecer!"

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 18/02/2021
Código do texto: T7187241
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