QUADRO- NEGRO
QUADRO-NEGRO
Vendo-te, meu quadro-negro, novinho em fôlha, eu sinto um quê de
tristezas e alegria.
O negror profundo da tua face, santificada por uma auréola nívea
de marfim, faz pensar no teu destino, que poderá ser glorioso mas
também ignóbil.
Estamparás em tua face expressões vis que humilham? Transmitirás as
vozes nefandas dos vendilhões grotescos? Serás o arauto da ignomínia
ou do negativismo estulto das idéias iconoclastas?
Vejo-te, então, angustiado, esconder tua face que foi pura, em
véus esgarceantes de poeira branca, fina e leve...
Alimento, ao contemplar-te, a visão consoladora de que seguirás a
trilha de louros para a qual tu fôste criado.
Serás o pegureiro que reconduzirá ovelhas transviadas ao redil.
Cantarás epopéias de amor, de glórias e derrotas.
Desbravarás, em traços curvos e retilíneos, os horizontes de terras
remotas, acolhedoras ou inóspitas.
Desvendarás os mistérios da Ciência e a filosofia da Vida e da Morte
Delinearás ângulos de luz e sombra, que só a Arte sabe dar.
Transmitirás os mais lindos versos que as almas dos poetas
rendilharam.
Porás, carinhosamente, um mundo de números e letras nas cabeças
gentis das criancinhas.
Serás, então, um missionário do Bem, da Ciência, da Virtude, do
Amor e da Beleza.
E eu desejo que isto aconteça para ti, meu quadro-negro, novinho
em fôlha.