abrir a janela

E foi assim que tudo se deu. O dia se repetiu como uma novela dantesca. Cada ser envolvido, como um personagem de Dostoieviski, refugiava-se num silêncio quase mortal. Todavia, como todos os dias, tudo se repetia da mesma forma. Nada se alterava, por isso, se dizia, a boca pequena, que ali a vida não pulsava. A vida, como um rio seco pela longa estiagem, se aquietara, se negava a pulsar, a dar sinais que queria ser vivida. Então, outra questão se apresentava: quem eram? Como ali chegaram? Como, ou do que, sobreviviam? Questões sem resposta. E assim gerações deram origem aquele clã. Nada mais se sabe, nada mais se pode saber, além de que ali a vida não pulsa e cada dia, como num quadro de Rembrandt, tudo se mantém sem brilho. Ao fim dessas palavras, o homem, já velho, fecha seu diário. E, a passos arrastados, fecha a janela, que bate violentada pela tempestade que se aproxima.