UMA ARTE DO IMPREVISTO
por Juliana S. Valis
A vida é uma arte do imprevisto,
Entre as flores nos jardins do tempo,
Entre várias interpretações possíveis
De um mesmo gesto, ideia ou fala,
Nos vários ângulos de uma mesma cena,
Gerando infinitos fluxos de comunicação...
E tantas vezes tentamos nos explicar,
Sem necessidade, quando não querem entender,
Tantas vezes tentamos compreender o mundo,
Mas não nos compreendemos, pois não sabemos
Quase nada do que pensamos ser...
Então seguimos sendo mistérios entrecortados
Por infinitos outros mistérios de outras pessoas,
Num labirinto de problemas cruzados
Por constantes falhas de comunicação,
Como se o coração gritasse suposições
Que às vezes não queremos escutar,
Pois demandamos tanto a perfeição do outro
Que não olhamos nossas imperfeições, no ar,
Feito um mar de emoções entre as ondas da vida...
Então o "normal" se torna essa contradição
De exigir dos outros a perfeição que nós
Nunca tivemos, ou teremos, na ilusão
De que estamos falando a mesma língua,
Mas conhecemos apenas algumas palavras,
Quando o mundo é feito de neologismos,
Como pássaros que redimensionam o céu da vida,
Enquanto descortinam o véu de suas próprias asas...
Assim, é importante a compreensão
Dessa grande arte do imprevisto,
Que é a vida, entre as horas que vão,
No dinamismo intrínseco ao mundo,
Muitas vezes sem lógica exata,
Entre ruídos de comunicação
E falhas contínuas, inerentes
à humana interpretação,
Pedindo mais improviso na dança
E na peça que os problemas pregam,
Como estrelas que desafiam tudo
E vão além dos próprios limites do céu...
Quadro acima "Noite Estrelada" - de Vincent Van Gogh
Por isso, vemos a loucura de se achar "normal",
Fazendo tudo igual, em jogos de aparências,
Numa contínua manipulação do bem ou mal,
Como se nós todos não fôssemos uma confusão
De impulsos ambivalentes que coexistem,
Pedindo ao tempo, no fundo, uma salvação,
Fazendo castelos com as pedras que o mundo nos joga,
Pedindo flores aos sonhos que vêm e vâo,
No dinamismo do coração, entre as fotos da alma...
Por tudo isso, talvez a arte nos salve
De nós mesmos e dessa humana contradição
De exigir "normalidade" e "perfeição"
Neste mundo que é estruturalmente louco,
Percebendo, pouco a pouco, que não existe
O perfeito "normal", o "melhor", o "pior,"
Mas somente interpretações e conceitos,
Tendo a humildade de sermos apenas humanos...
Fonte da imagem: vocal.media|1024 × 1024
Talvez, assim, a arte nos permita dialogar melhor,
Abraçando nossas contradições,
A arte em seus múltiplos sentidos, que vão
Diluindo na alma todo o grande imprevisto
E o improviso inerente ao coração,
Além da autoilusão de normalidade
E da intolerância com as "loucuras" alheias,
Nas infinitas ambivalências que todos nós,
De muitos modos, querendo ou não,
Consciente ou inconscientemente somos.
Fonte da imagem - Gif baseado no Quadro " A noite estrelada" de Vincent Van Gogh,
Disponível em: 1*3JjFrMkfG1R15KVPwWxzuQ.gif (580×461) (medium.com)
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