Houve um tempo...
Houve um tempo,
de singelo encantamento,
que apaixonei-me pelo vento,
não qualquer vento,
apenas o noturno vento,
que roubava-me,
por instantes,
da realidade,
para vivenciar o sonho. Em aguardado anoitecer,
brindava-me com sibilar,
com leveza e, por vezes,
alguma intensidade,
forçando a janela,
marcando presença,
instigando vigília.
Através do vidro,
sem vê-lo, óbvio,
percebia-o,
rolando tufos de arbustos,
movendo folhas caídas,
soprando tênues hastes
de lírios,
forçando flores bailarem. Mágicos instantes
em que percebia,
no escorrer do tempo,
haver simplicidade
e felicidade,
no pulsar
do vento.
Mágico momento
de inspiração,
resgatando do passado
o sentimento presente,
ainda hoje,
de encantar-se
pelo vento.