Até onde a poesia alcança?

É fácil o pensamento ir para um lugar comum, um lugar-ideia já conhecido com aparência de seguro, um lugar supostamente sob controle onde "rua" rima com "lua" e "nua"; onde "colibris cantam" e os "sentires" e os "amares" nos "inversos" mais escondem que revelam e não correspondem a pessoas de carne e osso ou à vida como ela é em seus próprios termos.

Esse caminho do "pensamento fácil", o pensamento condicionado chamado senso comum, embora corriqueiro, pode ser reflexo do vício das rotinas que nos soterram; ou simplesmente preguiça de ver e pensar por ângulos novos.

É comum pensar que a poesia expressa beleza e delicadeza, sentimentos nobres, estados elevados do espírito humano ou o "trivial que nos distrai". A poesia também é isso, mas não só.

Então não faz parte da vida os temas que esforçamos para esquecer? Como a poesia trata, por exemplo, o suicídio e o estupro, o genocídio e o aquecimento global? A poesia faz vista grossa para a morte do gari que traficava cocaína para manter seu vício no crack ou a morte do leiteiro tomado por ladrão enquanto trabalhava na madrugada?

Quanto a mim, não separo poesia da realidade por mais escrota que ela se apresente. Onde a vida acontece, as mãos da Musa estarão vibrantes, tocando e preservando, denunciando e promovendo a essência da nossa humanidade nos meandros da existência.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 02/02/2021
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