A Lua


Cheguei a janela do meu quarto e fui surpreendida por ela me espiando. Estava já alta, e o halo lunar lhe esmaecia o contorno. Trocamos outro olhar, cúmplice e cheio de segredos. É que mais cedo nos encontramos. Depois de uma curva bem fechada na rodovia, à esquerda, por volta das 18:30 h, ela apareceu-me à direita. Grande e redonda, parecia vestida de voil branco e transparente. Diáfana lua! E se eu subia ou descia pela estrada, ou virava à esquerda ou à direita, ela brincava comigo de esconde-esconde. Saía detrás das árvores, pulava feito bola, escondia-se atrás dos morros e barrancos. Reaparecia de novo, arteira! Certa vez, ficou por uns segundos acima da copa de uma mandioqueira e me lembrou a Sagrada Comunhão acima do cálice, sustentada pelas mãos do sacerdote. De outra, ela me apareceu bem à frente, esplendorosa como uma alva noiva. Trocamos um olhar tão compenetrado, que acho que São Jorge caiu do cavalo! E quando me dei conta, ela estava no leste e o sol no oeste, manchando o ocaso de tons alaranjados. Eu, no meio, testemunhando um encontro tão intenso e curto no espaço do tempo... talvez o sol chorasse sangue por ela, belíssima noiva! Ao chegar no meu destino, ela já havia trocado de roupa, como no teatro. Vestia-se agora de amarelo-ouro, reluzente e chique. As cortinas já haviam sido afastadas para ela atuar lindamente, como uma atriz de cinema.