Amor e paixão: reflexões!
Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E estremece, no mesmo movimento que o da terra,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Fernando Pessoa
Paixão contém o amor?... Ou paixão é uma interação - corporal sutil causal - entre casais, que avassaladoramente os inebria, os une, e temporariamente os detém. Refiro -me ao amor entre sujeitos, entre generos - homem e mulher - que os vincula, promovendo desejo de prole de convivência de amizade de envelhecentes ser; não ao amor de sujeito e objeto, ou melhor, são relações entre Ser e Ser, e não entre entes Seres e ônticos, e menos ainda entre ônticos ônticos.
A matéria advém de energias e partículas subatômicas, e têm-se complexado ao longo dos quinze bilhões de anos, pós Big Bang; inicialmente estruturada em átomos, depois moléculas, células, órgãos, corpos, indivíduo, população, comunidade, ecossistema, e biosfera. Entre os estágios de moléculas e células surgiu a matéria viva, e dai o Ser vivo (ser vivo é capaz de se manter estruturado "contornando" a entropia, via metabolismo e homeostase, e principalmente por ter a capacidade de gerar descendentes / prole. Enativos Autopoiéticos) que no caso da espécie humana se perpetua via sexo - meiose - com soma, gametas e zigotos, esperma e óvulo. Este texto adere aos parâmetros do evolvimento da biosfera e não nos de uma sociedade que tem excesso de consumidores, onde outros generos e tendências são alardeados e vividos.
A matéria se complexa temporalmente no intemporal presente, e ao que tudo indica, o néo córtex (simbólico cérebro trino) é a atual "cereja do bolo da matéria", local onde ocorre o pensamento perspectivo, o apreender, o sentir, o querer, o abstrato: o amor é abstrato? Assume-se atualmente que o corpo todo percebe, interpreta e responde/atua. O encéfalo é um importante órgão, mas é somente mais um órgão na complexidade do sentir, pensar, querer que imanam do corpo e das relações entre corpos, e das relações com o meio. Diz William Shakespeare " Mas o pensamento é o escravo da vida.// E a vida é um jogo do tempo.// E o tempo, que vigia o mundo inteiro,// Deve parar!"
O amor (ética carinhosa na relação/interação com o outro e si mesmo) é de interesse conceitual desde os primórdios do pensamento estruturado e organizado do homo sapiens sapiens. Na Grécia sistematizou: Ludus – Amor divertido/Lúdico; Eros – Amor sexual; Pragma – Amor prático de longa data; Storge – Amor familiar; Philia – Amor mais profundo tipo de amizade; Philautia – amor conhecido como amor-próprio; e Agape – Amor universal.
No pós iluminismo (1500 d.c.), em razão das relações tenderem a ser antropocêntricas, entre objeto e objeto, onde o homem e a matéria foram coisificados e insumizados pelos valores e princípios da economia, o sujeito foi jugulado, sugiu significante cujo significado tem viéz de amor ao próximo, buscando recompor sem sucesso, a relação Ser com Ser, no signo altruísmo.
A "seleção natural" de Darwin, parece se dar também na etopoiética, onde cada separado agrupamento social, estabelece suas regras, conceitos e princípios; quando então com os avanços tecnológicos, a relação deixou de ser homem com homem para tender a ser de sociedade/cultura com sociedades/culturas, da mesma forma, a relação de domínio e subserviência ficou degradante, criando o signo alteridade, isto é, o respeito pelo estágio cultural do outro.
Recentemente o signo outridade, surgiu, em razão dos reconhecimentos ambientais, significando que o outro - matéria/ôntico - devem ser respeitados, reconhecidos e preservados com a mesma importância do Ser. Tendência de sair do paradigma do antropocentrismo econômico para o mundicentrismo, com integração qualitativa do homem imerço ao planeta/biosfera. Fase centaurica na complexificação da matéria, hora de unir mente e corpo, buscar consciência não dual, isto é, coalescer observador/sujeito com o objeto, matéria viva com inerte. Isso motivado pelo fato do planeta/Gaia ser vivo e se alterar aos ditames da Enação Autopoiética.
No texto "OS SENTIMENTOS DA ILUMINAÇÃO " de Ken Wilber, Palestra proferida no Simpósio WHAT NOW, dezembro de 2017. Tradução de Ari Raynsford " Então, que Sentimento surge com essa Plenitude total? Amor. Óbvio, não? Como o Evangelho de João diz simplesmente: "Deus é Amor". Mas – e isto é importante – esse não é apenas amor relativo, que existe no tempo, e vai e vem, fica um pouco e se afasta, e encontra um oposto no ódio ou no medo. Esse é o Amor definitivo, radical, infinito, o Amor que move o sol e outras estrelas, o Grande Amor que é a Essência suprema de sua própria Condição mais verdadeira.
Por fim, essa Unicidade Amorosa é um estado sempre presente, embora a maioria das pessoas intua apenas pedacinhos dele, geralmente quando a aplica a alguém que ama individualmente – seu cônjuge ou seu filho, etc. Mas o Grande Amor ama absolutamente todas as coisas e eventos existentes, e faz parte da Essência do seu próprio ser". Em suma, tudo o que você precisa saber sobre o quinto estado de consciência é: o Grande Amor é o Sentimento de Plenitude radical do Sabor Único – Amor é o Sentimento de Plenitude do Sabor Único." O quarto estado é Turiya, o quinto estado de consciência é o Turiyatita, no mundo da verdade absoluta e não da relativa.
(Bem-aventurança é o Sentimento da Liberdade da Testemunha. E essa é uma prática que você pode facilmente fazer a cada dia da sua vida, se quiser. Portanto, SatChitAnanda: você vivencia Sat ou Ser toda vez que você se coloca como EU SOU; você percebe Chit ou Consciência toda vez que você se mantém como a Testemunha pura; e você sente Ananda ou Bem-aventurança toda vez que você reconhece o Sentimento extático da Liberdade infinita do seu Eu Real.)
A paixão (relação de afinidade/acoplação corporal - densa/sutil/causal - entre casais) com os avanços na microbiologia, à tem vinculado a hormônios, principalmente a Feniletinamina (e alguns outros). Parece que a matéria/natureza "escolhe" os casais para proliferar, a motivação é algo a se compreender, mas certamente está correlacionado com a complexamento da matéria. A descarga hormonal é simultânea e muito prazerosa e intensa aos afortunados (o famoso amor a primeira vista). A paixão promove vigorosa condição estral e leva a crer com viés de semelparidade e reduzido cuidado parental.
Por ser algo físico, o corpo (tanto o masculino quanto o feminino) acaba por eliminar/absorver os hormônios, onde, na maioria das vezes leva ao distanciamento dos atores/casal ex-apaixonados. O livro "O que é sexo" de Lynn Margulis e seu filho Dorion Sagan, aprofundam esta perpectiva. O período de duração dos hormônios no casal é de 2,5 a 3,5 anos, tempo necessário para o gerar e o desmame do(a) descendente. E não necessariamente o casal continua junto. A paixão está vinculada a Eros, amor sexual.
Diante do exposto, o amor é dissociado de paixão (paixão é realidade relativa e amor tende a verdade última/absoluta) ; com amor, é mais fácil que uma relação venha a ser duradoura, do casal permanecer juntos e envelhecentes. Um casal pode se vincular por vários outros motivos e terem vida conjunta, harmoniosa de muito prazer, muita bem-aventurança. O sexo/cópula, com amor, com afinidades, com o gostar, leva a catarse, a bons orgasmos e concepção de prole. O sexo/cópula com paixão promove êxtase, catarse, super-orgasmos e concepção de prole. O ciclo estral é multiplo, tendendo a iteroparidade e maior cuidado parental com os descendentes.
A meiose ocorre independente das afinidades emocionais, basta que sejam saudáveis e não estéreis. A meiose propicia novo ser vivo, com inerentes possibilidades de melhorias genéticas, mas também inevitável envelhecimento, doenças e morte, isto com a quididade da matéria/natureza/Deus em se depurar/aprimorar/despertar e controlar quantidades de seres vivos, para possibilitar o equilíbrio dinâmico da vida. Os patógenos são necessarios e inimigos dos seres vivos, mas não da vida (o covid é uma dádiva). Vida que é a interação da matéria viva com a inerte (biótico e abiótico), interdependentes. O planeta é um ser/ôntico/biótico/abiótico: - Autopoiético/etopoiético e VIVO. O universo também.
Independentemente de tudo, a natureza sempre se ajusta; a matéria e o tempo, conforme Ylia Pregogine, é flexa atirada rumo ao futuro no eterno agora, se complexando; é o Ser/matéria viva na busca perene da ousia/essência do universo, sendo o universo.
Com paixão, amor, creação... prossigamos!
Cesar de Paula