Que cela era essa? - Resilienciando 2
Amarrei-me em uma corda e fiquei presa por anos.
Aprisionei-me por não me permitir seguir em frente mesmo quando eu observava tudo ao me redor e não gostava do que via.
O que me impedia?
Não acreditava que com um pouco de esforço a corda se arrebentaria.
Mas e se quem me prendeu não gostar? Se eu for embora e quiser voltar pra essa cela que nem cara de cela tem?
Parecia mais um quarto com tudo que todo ser humano deseja ter, com uma bela cama, olhares que me atraiam e..
de repente estes mesmos olhos me julgavam e me denunciavam.
Denunciando o quê? O que posso ter feito de errado?
Não importa. Bastava fazer um agrado e minhas dúvidas e incômodos se perdiam.
Na cela também tem uma TV e não estou sozinha, quem me prendeu é uma boa companhia e nos abraçamos curtindo o momento, ele faz um comentário e rimos juntos e depois de um tempo eu jogo um comentário também, mas de repente tenho a impressão de que não tenho companhia nenhuma. Ele me ignorou?
Enfim, não importa. Estamos juntinhos.
Os dias passam e eu decido estudar e tomar um rumo que eu sempre quis e que prefiro concluir este desejo antes para depois lhe acompanhar definitivamente na cela e o sujeito disse "como assim? E eu? Vou ficar aqui na cela sozinho sem você para me acompanhar?
Eu tento expor meus anseios e minha fome de crescimento com minha nova profissão e de nada adianta.
Mas depois ele se mostra compreensivo e fica tudo bem.
Mais um tempo passa e em meio a estresses do dia fala que ele está pagando um preço alto demais pela prisioneira que está o acompanhando na cela, visto que as grades foram cobertas de vidro para que o ambiente ficasse mais fechado para ligar o ar condicionado.
Depois disso eu não conseguia mais sorrir para a vida e a cela que eu não enxergava comecei a enxergar de modo um pouco, mas não muito, nítido tudo que compunha o ambiente carcerário.
Até que me percebi adoecida e sem forças e escolhi ir embora, mas minha mente ainda fazia de mim prisioneira e quando conversava com o sujeito ele se fazia de desentendido ou dizia que qualquer pessoa ficaria feliz estando em meu lugar o acompanhando e quando me vi incapacitada de ir embora a cela se mostrou bem nítida e o companheiro desejoso apenas de minha companhia e nada empático perante meu adoecimento e dor.
Ao perceber isso sentia mais dor (na alma), pois o que ele não queria era o meu bem querer, apenas seu próprio bem querer.
No final das contas fui liberta por um grande amigo e, mesmo com as tentativas de ser convencida de voltar atrás pelo sujeito que me aprisionou, me libertei da prisão, pelo menos da vontade de estar próxima de quem não me queria bem.
Renovei meu próprio lar tempos depois tentando esquecer como era estar numa cela e descobri que a cela estava dentro de mim, pois eu não me permitia ser liberta. As maiores limitações são as da mente.
Me fiz prisioneira.