ESCUTAI TODOS

"Silêncio!

Deixai-me ouvir os sons da terna paz que me rodeia, longe das vossas interferências intempestivas...

Os seres humanos apenas sabem criar ruído e o ruído transtorna-me de tal modo, que fico com uma estranha alergia na pele...

Ah, malditos... Por vossa causa passo a vida a coçar-me!...

Calai-vos!

Não quero ouvir as vossas palavras hipócritas dos frívolos amores, dos falsos apelos de paz, dos levianos empenhos solidários por infindáveis campanhas humanitárias que nunca chegam aos seus destinatários... (Pobres estômagos cheios de vento; pobres sorrisos a transbordar de prantos...)

Ide lavar as vossas bocas indignas e conspurcai, dessa forma, a água-mãe com os vossos hálitos fedorentos de tantas torpes mentiras. (A nobre água que se entenda com a vossa má formação humana...)

Já não suporto tanta hipocrisia, tanto ídolo com pés de barro, tanto sorriso cínico, tanto idiota engravatado... Sois todos gentalha inútil com semanas de olheiras e rugas, de noites inteiras sem dormir, encobertas por toneladas de cremes tão artificiais como vós.

Estou farto de ver crianças imberbes para a vida, mas adultas para os vícios e sempre, sempre mal educadas para tudo e para com todos...

Estou farto até de mim, por não me conseguir adaptar a esta inconstante forma de vida que o Homem está criando com despudor e total falta de sensibilidade...

Felizmente ainda não me fartei da Mãe Natureza e das suas nobres criações... As plantas, os insectos, o mar, o vento, os rios, as nuvens, a chuva e todos os animais – ditos – irracionais...

Por isso, Sscchhhiiiiuuuu!...

Escutai comigo e aprendei...

Isto se o desejardes fazer...

Se não, calai-vos para todo o sempre, seus... seus inúteis!"