Impressões

A dor é a mais frágil das emoções e o mais lancinante dos uivos que a solidão pode suportar. É o instante em que o infortúnio dilacera os nervos e inflama um rastro de fogo no atrito da impetuosidade. Lembram a penumbra entre o paraíso e o inferno, lá onde as cores são errantes, na flacidez do azul, em uma ou no vermelho da aflição, na outra. Essas alucinações são fachadas de casas sombrias, quando abrem a porta da face na amargura do estado febril.

A entonação da plangência é uma dolorosa liturgia de berros desesperados, lembrando bichos na agonia da hora fatal. Após a diluição dos descuidos sensoriais, vem a catarse, o prazer de deleitar-se como um pássaro festejando as alterações do cromatismo com rodopios sobre os desejos extenuados. É preciso a beleza de uma cachoeira lírica pelos quatro cantos da carne, depois da passagem dos arrepios a se esvair em fantasias.

ubirajara almeida
Enviado por ubirajara almeida em 03/01/2021
Reeditado em 10/01/2021
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