Sobre a inércia
Tenho pensado sobre a inércia. Penso se na vida de um poeta não há um momento em que a fonte dos versos cessa e ele passa a sentir sede e suas mãos ficam sujas porque já não pode lavá-las. Quando tudo o que precisava ser dito já foi dito. O seu coração não bate com tanta urgência como em outrora. A sua cabeça não lateja mais. O pulso ainda pulsa, embora devagar. Seria a morte ou uma pausa para o descanso? O fim ou um princípio de calmaria? Quando parece que tudo já foi dito sobre o amor, já sabemos tudo sobre essa forma misteriosa que envolve os seres de forma tão intensa. Já não há motivo para a guerra. Já desvendamos tudo sobre a morte. Quem morreu foi mesmo o mistério. Ficamos inertes e nas fábricas e nas ruas, os robôs trabalham por nós. A fonte da poesia esgotou. E esgotou rápido, porque a liquidez do mundo moderno tornou até mesmo a nossa sede efêmera. Inerte dentro do peito, o coração pulsa e anseia por amor. É preciso encontrar a rocha e rompê-la. E pra já! Antes que o coração morra de secura.