Antifonia
Quando chegamos à idade da conservação ou da conversação silente, uma das sabedorias afetivas da loucura pelas ruas, com ladainhas e cantilenas, é o exato momento do rapto licencioso entre a pausa excitante e a voracidade do ritmo que seduz a tentação. Depois da agonia das descobertas, bate um sentimento que beira à plenitude da horizontalidade. Não me refiro a avisos ou decretos contidos nos códigos da decadência, anunciando que a hora está próxima do dia sagrado. Falo do conhecimento do tempo que surge no entusiasmo das emoções vividas, com sabores e saberes de um colorido mutante.
Quantas vezes vimos a lua com seus vestidos sensuais, num conluio inesperado de torturas e atribulações, diante do pinho, do líquido em ebulição e de uma bonequinha embebida de paixão, para completar a fantasia da alma acostumada aos suspiros amorosos? Nessa traição suntuosa, devemos cultuar o desejo quando despertamos na claridade da manhã, na vagarosa degustação da essência, ao consumir o fogo na cumplicidade do perfume, para o êxtase lento e sereno do divertimento. Assim vivendo entre sonhos e realidades, vamos navegando pelo mar de contínuas ondas sem abalos desordenados. É preciso sentir o éter da primavera, com a esperteza dos perigos vencidos e palmilhar o caminho para o despertar, depois da ascensão.