Rogai por nós
Sentada na porcelana fria do banheiro rogava não mais ser prisioneira das horas e das senhoras
Rogava ao mundo, como queria, apenas por um minuto, ser senhora de si
Queria fugir de si, escapar das horas e esconder-se das senhoras
Tortura infinda ser escravo velado de senhores tão diminutos, porém tão cruéis
Maldito seja aquele que em seu ventre não gerou
Incapaz é de saber quão árduo dever aquele de a si não pertencer
Porcelana fria rogai por nós que padecemos sem poder abertamente clamar
Porcelana fria nem a ti podemos rogar sem alguma voz a nossa intimidade macular
Senhoras e doutores do rápido julgar
Sempre aptos a recriminar queimem em seus podres e narcisísticos tribunais
Que seu fogo ávido por aquelas que são por vós declaradas bruxas seja o berço esplêndido de vossa própria ausência e culpa
Ah porcelana fria, que acolhe súplicas silenciosas, rogai por nós que nem a nós mesmas pertencemos
Não nos deixe padecer da ausência de nosso ser nem do terror que nos assola, furtando de nós as horas que deveriam ser a nós dedicadas
Oh porcelana fria que a tudo vê e ouve, rogai por nós pobres seres furtados de a nós mesmos pertencer