Rogai por nós

Sentada na porcelana fria do banheiro rogava não mais ser prisioneira das horas e das senhoras

Rogava ao mundo, como queria, apenas por um minuto, ser senhora de si

Queria fugir de si, escapar das horas e esconder-se das senhoras

Tortura infinda ser escravo velado de senhores tão diminutos, porém tão cruéis

Maldito seja aquele que em seu ventre não gerou

Incapaz é de saber quão árduo dever aquele de a si não pertencer

Porcelana fria rogai por nós que padecemos sem poder abertamente clamar

Porcelana fria nem a ti podemos rogar sem alguma voz a nossa intimidade macular

Senhoras e doutores do rápido julgar

Sempre aptos a recriminar queimem em seus podres e narcisísticos tribunais

Que seu fogo ávido por aquelas que são por vós declaradas bruxas seja o berço esplêndido de vossa própria ausência e culpa

Ah porcelana fria, que acolhe súplicas silenciosas, rogai por nós que nem a nós mesmas pertencemos

Não nos deixe padecer da ausência de nosso ser nem do terror que nos assola, furtando de nós as horas que deveriam ser a nós dedicadas

Oh porcelana fria que a tudo vê e ouve, rogai por nós pobres seres furtados de a nós mesmos pertencer

Aline Fernanda
Enviado por Aline Fernanda em 30/12/2020
Reeditado em 31/12/2020
Código do texto: T7147765
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