Ninho
É terrível carregar o peso de mil amores
Ser alvo do amor do presente, que haveria de ser uma dádiva, me sobrecarrega com as dores e agruras dos amores de outrora
O que se havia dantes, agora me faz prisioneira das expectativas que se querem que eu atenda
Sou pássaro livre, que me acolho no ninho com alma livre e carinho cativo, enquanto no ninho estou
Fora do ninho sou de mim, ma pertenço e a ninguém mais
Me amo livre, leve, solta, plena, rebelde, de mim e de mais ninguém
Quando pouso, o faço por querer, pelos quereres e por querer bem
Quero bem ao recitar, ao molhar, ao beber, ao café que quebra a manhã preguiçosa e as tardes jocosas
Busco no ninho a paz que me relaxa e me faz deitar, entregue pelo prazer deleitoso, no carinho de depois
Fora do ninho quero me contemplar, dividir comigo os olhares sobre a cidade, me encantar com as novidades, desvendar mistérios, desvelar o oculto ou apenas ser
Fora do ninho sou minha e só a mim pertenço
Fora do ninho me divido apenas comigo mesma
A beleza do ninho é ser ponto de descanso e preparo para novos vôos
E quando se volta ao ninho é por saber que lá há o alimento que se permite continuar livre e ter forças para continuar a voar
Passarinhos não pousam em gaiolas por saber que não mais serão livres, mas sempre voltarão ao ninho