Quando o escuro da noite, encontra a luz do dia.

Vou contar o que me intriga

A verdade mentida e mantida pelas bocas brutas

Que maldosamente proferem e ferem ouvidos puros e os vicia

Adestrando-os a acreditar que enquanto o mundo gira

De círculos vive a vida

Mas na verdade, a nossa verdade

Se recria dando vida a um mar de infinitas possibilidades

Hoje tantos poucos agridem, os que poucos tantos fazem parte

E essa parte de todo o inteiro se divide em um total maior que o resultado

Somos sementes cruas de um amanhã inexistente

E que insistentemente germina acreditando que é possível

E sim é possível acreditar, que o que insiste em existir

Talvez possa um futuro compartilhar

Basta acreditar que ao fechar os olhos e respirar

No escuro do silêncio pessoal, aquele que se vê por dentro das pálpebras

No fundo dos mistérios vai enxergar

Sua verdade escondida, mentida, doída e enclausurada

E das marcas surradas pelo tempo, escorre o lamento a muito sangrado por dentro

O coração da alma lamentosa, de tanto chorar deu luz a um oceano

No fundo germinou as algas de um jardim subterrâneo

Naufragado e escondido onde só quem sente pode chegar

Mas nunca consegue sequer tocar, enxergar, ou, pelo menos, tentar

Respirar fundo sem afogar sua agonia

Se fazes do amor um instrumento, apenas o puro sentimento dele fará música

E sua melodia sim será sentida além dos muros que ergues a tua volta

E então sua desastrosa revolta desvanecerá perante a pureza do teu ato

Deixarás de lado tudo que não é espírito, que não é etéreo e que não é fato

Marcharás como soldado obediente com os dois pés enfileirados em direção ao desconhecido

Onde mais ninguém consegue chegar além do limite do que foi dito

Nem beber de tua sabedoria sem sucumbir aos teus prantos

Faça sua escolha e assuma sua responsabilidade diante outros tantos

Quando matas por prazer, morres por consequência

E quando morres, atiras as feras teu peito aberto em sangue e reverência

E seu oceano vira deserto, salgando teu desencanto

Não te atrevas a entender o que sinto

Eu não me atrevo

Faça sua parte, amando o que te faz gente

E se consegues ter isso em mente, então estás pronto para o declínio

Não ignores o delírio pois é dele o chão que pisas e consomes

É onde nascem teus santos e teus demônios

É de onde vens e pra onde vais

Por enquanto apenas siga em frente

Nos frágeis sentidos de tua alma, terás tua resposta

Através do finito, emfim chegarás ao infinito

Pela palavra ouvirás o verbo e serás o substantivo

E nesse momento intransitivo, acorde e faça um café

É assim que se descobre o que não nos mostra a fé

Que onde os pés não tocam, é que está o verdadeiro sentido da vida

No escuro da dúvida a clareza da certeza

No silêncio ininterrupto, todos as palavras já escritas, lidas, repetidas, proferidas e caladas

O mundo não gira ao nosso redor

Isso já foi dito

Nós giramos sobre nosso próprio eixo

Presos na gaiola dos desejos

Tentamos ser livres do vício

Mas o vício é tudo que temos

O vício de querer entender o que não pode ser entendido

Não pode ser explicado

Não pode ser decidido

Então faça uma pausa e se pergunte

Lá no fundo de seu obstante coração

Assim direto e objetivo

Se o universo se recria, porque você não?

Cláudio Saiere 29/12/2020