MULHER DE EUNICE

Bom dia, pra quem veio pro dia,

Vim aqui falar de uma mulher,

Não uma qualquer,

Vim falar de mulher de Eunice,

Que pelo acaso é minha mãe,

Mas não só de Ita, que vos fala,

Mas de Cica, de Ori, de Bira e de Mamica,

E que desta quinteira rica,

Desatou ter mais vielas;

Venho aqui falar dela,

Mulher valente, de pouca eira,

Mas que se construiu na beira,

De uma vida de tantas outras,

Mulher, mãe e esposa,

Que foi distinta na escolha,

De sozinha e pouca idade,

Pouca grana e muita valentia,

Tocar pra frente sua lida,

Sua prole, sua sina;

Já chorou muito esta velha,

Já brindou, já sorriu, já clamou ajuda,

Já acudiu muito e muitos,

Muitas vezes sem valia,

Mas nunca foi de amargar a hora,

Gritou, esperneou, botou pra fora,

E foi adiante, feito guerreira,

Com sua espada e guia,

Mas nunca sem perder sua vaidade

E sua magia.

Venho aqui falar de mulher de Eunice,

Esta que ousou amar e desamar o momento,

Que em cada perda, cada dor ardida,

Chorou em seu canto, quieta, sofrida,

Pelo instante que cabia,

Mas logo depois voltou pra briga,

Esta que me acudiu no colo,

Quando minha vista ardia,

Que amargou outras penas caídas,

Mas não titubeou, arfou fôlego,

Voltou mais aguerrida.

Venho aqui falar de mulher de Eunice,

Que não por acaso é minha mãe,

Ahn, nem só de Ita, de Cica, Ori, Bira e Mamica,

Mas por sorte nossa, nos fez gente,

Desde sua barriga até hoje;

Velha nanica, de armadura já amassada,

De mente e lembrança as vezes raquítica,

Mas de uma nobreza que nenhuma rainha

No mundo rivaliza.

Ita poeta
Enviado por Ita poeta em 26/12/2020
Código do texto: T7144559
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