Sorte ou Azar?

Nasceu, neste mundo, há muitos anos, uma pequena menina que recebeu a alcunha de Maior romântica do mundo.

O problema é que ela não nasceu no Romantismo. E sim na pós modernidade. E via cores e paixões em cada fresta das paredes descascadas que havia nas cidades mais futuristas que existiam.

A Menina Mais Romântica Do Mundo não entendeu quando suas amigas mudaram e começaram a falar que ficaram com um rapazinho. Ela escrevia novelas imaginando que ficaria de mãos dadas por anos com o mesmo moço da sua mesma idade. E iriam ao cinema, rir, comer pipoca, pizza e estudarem juntos. E iam tocar músicas, apreciar obras de arte e caminhar quilômetros por dia só para observar o que existisse ao seu redor.

E qua lá pelas tantas em meio às risadas, surgiria um pedido de casamento e eles trabalhariam para construir a sua casa, seus planos e sua vida juntos...

Que teriam filhos, dividiriam os cuidados, os trabalhos de casa e da rua, continuariam alegres, cuidariam dos seus familiares, da saúde, do dinheiro, dos amigos. Que sua casa seria um ninho para os desabrigados. E que os dois seguiriam melhores amigos, apaixonados e com o mesmo foco para sempre.

A menina encontrou um namorado que gostava de estudar mas que não sonhava com ela. Um que gostava de música mas que era confuso, um que adorava viajar mas que não gostava de trabalhar, um que queria casar mas não era afetivo, um que queria casar mas não queria filhos, um que queria amar mas era bruto, um que queria sua companhia mas não se comprometia. Um que queria compromisso mas a depreciava. Um que queria casamento tradicional mas se tornou agressivo.

A menina, confusa com isso, não entendia por que as coisas no amor não davam certo. Ela fez tudo que conhecia e se aprimorou para estar bem para viver o grande amor. Cada vez que um grande amor se desfazia, ela se sentia amada e protegida com sua mãe. Mais tarde, com os filhos, para cuidar e vê-los crescerem e se desenvolverem.

A Moça Mais Romântica Do Mundo continuou sem vontade de sair pra buscar alguém, ela gostava do canto dela, do mundo que ela criou e continuou sendo a Menina Mais Romântica Do Mundo. Às vezes isso era lindo. Às vezes, um fardo. Mas ela não queria perder tempo, energia, dinheiro, em algo sem coração. Então, ela ampliou a ideia de Amor Para Sempre. Trouxe a mãe para morar com ela e, passado dos trinta anos, percebeu que o amor é muito mais do que ter um parceiro para toda a vida e todos os momentos. É amar quem está com você. E decidiu que construiria a família dos seus sonhos, estando solteira ou casada. Depois deste tempo, ela ficou mais crítica e só queria o melhor. Então as pessoas apareciam oferecendo o melhor. Mas bastava ela se comprometer e tudo mudava. Como essa Senhora Mais Romântica Do Mundo não se rende, decidiu ficar sozinha. Mas numa solidão imensa como ela imaginava, cheia de amor, flores, sutilezas. E criou uma grande família. Uma família dos sonhos. Azar de quem perdeu.

Por que a Senhora Mais Romântica Do Mundo sou eu.