Verdades inconvenientes
Você é um entre 8 bilhões de habitantes deste judiado planeta. O ar poluído que respiramos foi contaminado por nós, judiamos do planeta porque não pensamos nas gerações futuras.
Nosso imediatismo, nos fez mais próximos do abismo, cavamos o solo em busca de riquezas e não percebemos que a maior riqueza era o próprio solo. É dele que vem os frutos que enchem de cores nossos olhos.
Nossa comida, há muito, já não é saborosa, não tem a mesma textura de outros tempos. Temperos não se colhem mais no quintal (perdemos o quintal) e compramos tudo ensacadinho, acrescido de muito conservante, claro.
Tomar banho de sol se tornou tão nuclear quanto uma bomba de hidrogênio; o câncer está ali, em cada raio de Sol que a Terra já não filtra; acabamos com a camada de ozônio, nosso protetor solar natural.
Nossas ruas, outrora nosso playground e centro de descobertas, hoje se tornaram ringues de motoristas em disputa pra ver quem será o pole position ou o assassino da ciclista.
A água, que um dia caiu do céu e banhou praças e parques, hoje não traz o mesmo frescor; se tornou ácida. E compromete a oferta de alimentos que encarecem e faz surgir exércitos de famintos. Quem nunca viu homens virando latas em busca de alimentos?
Fizemos essa maravilha em nome de um progresso que separa quem vive, quem morre; necropolítica, eis o novo jeito de governar. Administrar estatísticas, comodites, fluxo de capitais, é disso que se trata a boa governança. A politica do Humano e para o Humano não consta dos programas governamentais. Um sonho que já nasce no leito de morte e pronto para o sepulto; nada mais. E então, o que sobra, talvez, incrédulo ou consciente da proximidade do abismo, o guardador de rebanhos, ou o de malas na rodoviária, adentrem no banheiro e chorem pelos seus e para o seus. Conjecturas, somente.
Instados à integração num mundo globalizado, cujo idioma é a língua do mercado, mercantilizamos cada átomo de vida em nome de um progresso que atrofia os pulmões com as fuligens dos carros e fábricas e suas tóxicas fumaças.
Piratiamos os mares. Expulsamos seus habitantes naturais como se fôssemos a guarda pretoriana do império romano. Saqueamos as florestas como Gengis Khan nas guerras de conquista da Àsia.
Arrogantes e piratas, fechamos nossos olhos e tapamos nossos ouvidos. Não queríamos ver e ouvir verdades inconvenientes. Cortatantes como navalhas e penetrantes como lanças, as verdades que se nos apresentava eram tão inoportunas e inconvenientes que respondíamos com mais "progresso".
Aqui estamos. Crianças tristes, desamparadas e com medo, muito medo de abrir as janelas e não ver o quintal, a rua, a praça, o jardim.....