Fado

Vim, involuntariamente.

Ainda vou, voluntariamente, sorrindo.

As xícaras do café dentro da pia, as faíscas de pão sobre a mesa, os netos foram embora.

São 16:00 hrs da tarde.

O Bem-Te-Vi soa em cima do portão, o vento roda a saia da cortina bege. Alegrias x Solidão.

O sol enternece se desfazendo, esmaece sem lá muitas forças: mostra sua cor tangerina na nuvem gorda, mais azul que branca.

Olho novamente a pia e as migalhas de pão sobre a mesa; a preguiça do sol aderi: passos lentos ao recondito, um quarto.

Vejo as rosinhas no travesseiro de mamãe desbotadas, com tantas saudades dormidas e lutos sarados; afundo a fronte no jardim de tecido ralo.

Fado.

Peguei carona na saudade.

Sofri todos os lutos antes que acontecessem.

Julgaram-me frio, falso e insensato.

Ninguém poderia entender simplesmente, que nasci cansado.

Obs: Fado, significa destino.

Poeta de Borralho
Enviado por Poeta de Borralho em 20/12/2020
Reeditado em 19/02/2021
Código do texto: T7140103
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