O AMANHÃ SUSSURROU NO MEU OUVIDO
É dezembro. Olho para fora e o céu em tons acinzentados se faz imponente. Algum poeta melancólico me entenderia. Saudade tem gosto agridoce; tem paciência e tem pressa. Quando os dias se alongam ao redor das horas, trato logo de distrair a cabeça. Olho para além da janela e o sol está se pondo outra vez, pintou o céu em tons de alaranjado e foi embora. Me disseram que ele há de voltar amanhã. Vez ou outra vejo traços de tinta guache no firmamento. Ou será tinta a óleo? Michelangelo há de ter pintado o universo, quiçá. Quem haverá de responder como as estrelas iluminam a estratosfera? Um maluco descabelado qualquer, descobriu a equação da vida. E por falar em vida, ainda a sinto tão recolhida. Nada de novo lá fora. O mundo permanece estaticamente em movimento. Impossível, disseram eles. Deve ser só ficção-científica. Pintei o mundo de silêncio e pus-me a dormir. Já é dezembro, e eu posso ouvir o amanhã sussurrar no meu ouvido.