O infarto
Em certa tarde nauseante, eu encontrava-me com o coração constipado por uma elegia que desmaiava lentamente no mais fundo de mim; minhas artérias se asfixiavam com o calor vespertino, e todos os meus sentimentos estragavam sob a inflamação do tempo. Ah, faltou-me oxigênio para todas as formas análogas que criei em meu peito; eu que senti de súbito, o alvorecer das coisas tal como um dia germinaram no horizonte, agora assistia todas serem vencidas pelo meu cansaço nostálgico.
A espera é cardíaca em teu derradeiro fulgor, pois eis que armazena um sol e o assiste se decompor em pulsações que adormecem na apatia.
Na tarde em que infartei, um rosto passava pela minha mente, crescendo no formato de uma flor; teus traços exalavam compreensão, mas me deparei com o rosto fora de mim, e com os seus contornos por hora tão egoícos. Meu miocárdio foi acometido pela enfermidade de quem aguarda, cultiva e vê que nada mudou; neste dia tive o ensejo de desnutrir as formas que outrora alimentei dentro de mim.
Foi o dia em que a fadiga coagulou no coração.